Não percebi, a principio,
o momento em que transpus o limiar desta vida.
Que força foi essa que me fez despontar,
neste imenso mistério,
como um botão de flor numa floresta à meia-noite?
Quando, pela manhã, olhei para a luz senti logo que eu não era um estrangeiro neste mundo;
que o insondável, que não tem nome nem forma, me tomara em seus braços sob a forma de minha mãe.
Assim também, na morte, o mesmo Desconhecido há de aparecer-me,
como alguém que sempre conheci.
E porque eu gosto desta vida, sei que também gostarei da morte.
A criançinha, quando a mãe a retira do seio direito, chora,
para logo depois achar no seio esquerdo o seu consolo.
TAGORE, Rabindranath, Gitanjali;
Rio de Janeiro: José Olimpio, 1948, 4ª Ed., poema 95, pp. 110-1
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