“Nada há de novo abaixo do Sol.”
Material comentado e organizado por Alexandre Cumino
Para o livro Deus, Deuses, Divindades e Anjos publicado pela Editora Madras
E que serve de material de apoio ao Curso de Teologia de Umbanda Sagrada.
Sincretismo consiste em unir dois ou mais valores para alcançar um terceiro valor, o sincretismo religioso está muito ligado às culturas, pois valores de duas ou mais culturas se unem quando nasce uma nova religião.
Vejamos por exemplo na Umbanda, uma religião brasileira, que tem culto aos Orixás, divindades africanas da cultura Nagô, e aos Santos, da cultura católica. Jesus Cristo e Oxalá são cultuados em um sincretismo tão forte que Jesus passa a ser Oxalá e Oxalá passa a ser Jesus. Aqui também surgem polêmicas onde nem todos aceitam o sincretismo desta forma, para muitos Jesus apenas representa Oxalá, para outros vice e versa e para terceiros os dois, Oxalá e Jesus, caminham juntos sem perder sua individualidade. Assim é o sincretismo na Umbanda que aparece identificando:
Jesus Cristo com Oxalá
Nossa Senhora da Conceição com Oxum
São Sebastião com Oxossi
São Jerônimo com Xangô
São Jorge com Ogum
São Lázaro com Obaluayê
Santa Clara com Logunan
São Bartolomeu com Oxumarê
Joana D’Arc com Oba
Santa Bárbara com Iansã
Santa Sara kaly com Egunitá
Santa Ana com Nanã Buroquê
São Roque com Omulu
Cosme e Damião com Ibeji
Na cultura brasileira existe o sincretismo cultural, que aparece em “síntese”[1] na Umbanda, como um espelho que mostra as culturas do Negro (Cultura Africana), do Branco (Cultura Européia) e do Índio (Cultura Nativa); todas elas partes de um todo que é a Cultura Brasileira.
O que cria um ritual marcado por estas influencias, com muita musicalidade tocada por atabaques, rezas para Santos e Orixás, uso de terços e de colares de contas (guias), a valorização da natureza com a visão do índio que adora Tupã, o uso de ervas com banhos e defumação, uma forma simples de magia que mistura valores indígenas com o afro-brasileiro e muitos outros traços deste povo brasileiro.
Mas esta absorção cultural religiosa (sincretismo) não é uma exclusividade da Umbanda, o Judaísmo absorveu das culturas sumeriana, babilônica, acadiana e assíria em geral assim como a cultura cristã se alimentou da judaica e da grega, a cultura do islã pode absorver as culturas cristã e judaica, assim como todas elas tem uma influencia mais sutil também da quase extinta cultura persa, dos cultos zoroastristas. O Budismo nasce em solo hindu, através de um príncipe guerreiro, Sidarta Gautama, o budismo tibetano recebe influencia diferente do budismo chinês, pois os valores que antecedem permanecem subentendidos e se unem a outros para criar a argamassa com a qual a nova religião é construída.
Tudo se transforma e assim é com as religiões que para nascer se alimentam de outras religiões, até que ao atingirem certa “proporção”, que nem sempre corresponde á maturidade, passam aos conflitos de “adolescência” em relação à “Matriz” para então passarem a uma disputa aberta, na maioria dos casos, com objetivo de mostrar a supremacia de uma geração em relação a outra. A nova e vigorosa geração apresenta idéias inovadoras ou ainda, apenas, acredita, pensa, que suas idéias são novas e que está fazendo algo que ninguém teria feito antes.
Encontraremos muitos valores em comum nas religiões, muitas vezes chega a parecer que existe apenas uma única religião que se manifesta de formas diferentes, a Ordem Teosófica tem uma visão muito particular sobre esta questão onde a Teosofia é a “religião eterna” ou talvez “a religio-vera”, a “religião verdadeira” e mais adequadamente a “Religião da Sabedoria” que seria o ideal a que todas as religiões buscam. Para muitos este ideal religioso pode ter sido algo que perdemos em outras eras quando a humanidade possuía um nível superior de espiritualidade, como no mito de Atlântida ou da Lemuria. Na literatura de Rubens Saraceni encontramos esta cultura perdida no que é chamado de “Era Cristalina” (“Os Templos de Cristais”, “Hemissarê”, “O Guardião dos Caminhos” / Ed.Madras – Rubens Saraceni).
Helena P. Blavatsky, fundadora da Ordem Teosófica, uma das mais eruditas e influentes estudiosas e pesquisadoras de religião de todos os tempos, em seu Glossário Teosófico (Edotora Ground, quarta edição, 2000, com tradução de Silvia Sarzana) define Religião, Religião da Sabedoria e Teosofia de uma forma que apresenta muito bem esta idéia sobre um conhecimento eterno, que se manifesta nas diferentes religiões, mudando apenas a forma. Vejamos as definições de Blavatsky:
- Religião – Apesar da imensa diversidade que oferecem do ponto de vista exterior, todas as religiões têm um fundo comum nas idéias dogmáticas, filosóficas e morais. De fato, o estudo comparado das religiões demonstra que os ensinamentos fundamentais sobre a Divindade, o homem, o universo, a vida futura, são substancialmente idênticos em todas elas, apesar de sua diversidade aparente. São as mesmas encobertas pelo véu próprio das religiões exotéricas que as desfiguram parcialmente. É como uma luz branca encerrada num farol, que tem, em cada um de seus lados, um vidro de cor diferente e, conforme o lado em que é olhada, parece vermelha, azul, verde ou amarela; retire os cristais e verá a mesma luz em sua pura cor natural. Esta base comum de todas as religiões dignas deste nome explica-se porque todas elas emanam da Grande Fraternidade de Instrutores Espirituais, que transmitiram aos povos e raças as verdades fundamentais da religião, sob a forma mais apropriada ás necessidades daqueles que deviam recebê-las, bem como ás circunstâncias de tempo e lugar. Por isso se disse, não sem fundamento, que a questão religiosa é principalmente uma questão geográfica; assim, uma pessoa é muçulmana simplesmente porque nasceu na Arábia; católica, porque nasceu na Europa etc. Em sua missão sublime, os excelsos fundadores de religiões foram auxiliados por certo número de indivíduos iniciados e discípulos de diversos graus, homens eminentes por seu saber e por seus relevantes dotes morais. Outra causa poderosa do antagonismo entre aqueles que professam credos religiosos diferentes são as corrupções introduzidas por seus representantes, que os modificam e transformam a seu bel-prazer, impulsionados geralmente por interesses e egoísmo.
- Religião da Sabedoria – A única religião que serve de base a todos os credos existentes na atualidade. Aquela “fé” que, sendo primordial e revelada diretamente à espécie humana por seus Progenitores e pelos Egos que a instruem (por mais que a Igreja os considere como “anjos caídos”) não exige “graça” alguma ou fé cega para crer, porque era conhecimento. Nesta Religião da Sabedoria baseia-se a Teosofia.
- Teosofia (do grego, theosophia) – Religião da Sabedoria ou “Sabedoria Divina”. O substrato e base de todas as religiões e filosofias do mundo, ensinada e praticada por uns poucos eleitos, desde que o homem se converteu em ser pensador. Considerada do ponto de vista prático, a Teosofia é puramente ética divina. As definições da mesma encontradas nos dicionários são puros desatinos, baseados em preconceitos religiosos e na ignorância do verdadeiro espírito dos primitivos rosacruzes e filósofos medievais, que se intitulavam teósofos. [A palavra Teosofia não significa Sabedoria de Deus, mas Sabedoria dos Deuses ou Sabedoria Universal. Esta Sabedoria é a verdade interna, oculta e espiritual, que sustenta todas as formas externas da religião e seu pensamento fundamental é a crença de que o Universo é, em sua essência, espiritual; que o homem é um ser espiritual em estado de evolução e desenvolvimento e que a humanidade pode progredir na via da evolução através do exercício físico, mental, espiritual adequados, fazendo-a desenvolver as faculdades e os poderes que a tornarão capaz de ultrapassar o véu externo do que é chamado de matéria e passar a ter relações conscientes com a Realidade fundamental. A grande idéia, que serve de base para a Teosofia, é a Fraternidade universal e esta se encontra fundamentada na unidade espiritual do homem. A Teosofia é de uma só vez ciência, filosofia e religião e sua expressão externa é a Sociedade Teosófica. Opostamente ao que muitos acreditam, a Teosofia não é uma nova religião; é, por assim dizer, a síntese de todas as religiões, o corpo de verdades que constitui a base de todas elas. A Teosofia, em sua modalidade atual, surgiu no mundo no ano de 1875, porém é em si mesma tão antiga quanto à humanidade civilizada e pensadora. Foi conhecida por diversos nomes, que têm o mesmo significado, tais como Brahma-vidyâ (Sabedoria Suprema), Para-vidyâ (Sabedoria Suprema) etc. O motivo especial de sua nova proclamação em nossos dias foram os rápidos e perniciosos progressos do materialismo nas nações propulsoras da civilização mundial. Por esta razão, os guardiões da Humanidade acharam oportuno proclamar as antigas verdades numa nova forma adaptada à atitude e ao desenvolvimento mental dos homens da época e, assim como antes foram reveladas uma após outra as religiões, segundo a passagem de um a outro desenvolvimento nacional, assim, em nossos dias, as bases fundamentais de todas as religiões tornaram a ser proclamadas, de modo que, sem privar nenhum país das vantagens especiais que sua fé lhe proporciona, se deixará de ver que todas as religiões têm o mesmo significado e que são ramos de uma mesma árvore. A Teosofia apresenta-se, além disso, como base de filosofia de vida, porque possui vastíssimos conhecimentos sobre as grandes Hierarquias que preenchem o espaço; dos agentes visíveis e invisíveis que nos rodeiam; da evolução ou reencarnação, através de cuja virtude o mundo progride; da lei da casualidade ou da ação e reação, chamada karma; dos diversos mundos em que o homem vive, semeie e colhe, etc., etc., conhecimentos que resolvem, do modo mais racional e satisfatório, os árduos enigmas da vida, que sempre conturbaram o cérebro dos pensadores como desalento de seu coração. No campo da ciência, abre novos caminhos ao conhecimento. A Teosofia explica a vida, justifica as diferenças sociais entre homens e indica o meio para se retirar novos fatos do inesgotável armazém da Natureza. A Teosofia fornece também normas fundamentais de conduta aplicáveis à vida humana e levanta grandes ideais, que comovem o pensamento e o sentimento, para pouco a pouco redimir a humanidade da miséria, da aflição e do pecado, que são frutos da ignorância, causa de todo o mal. A dor e a miséria desaparecerão completamente de nossa vida, quando soubermos trocar a ignorância pelo conhecimento. Ante a Sabedoria nossas tribulações se desvanecerão, porque o gozo é peculiar e inerente à natureza íntima de que todos dela procedemos e a ela temos de voltar. A Teosofia, finalmente, não impõe qualquer dogma, nem força ninguém a acreditar cegamente nas verdades que ensina, mas faz outra coisa imensamente melhor: coloca o homem disposto a isso em condições de perceber diretamente, por si mesmo, tais verdades através do desenvolvimento de sua natureza espiritual, e com ela, o desenvolvimento de certas faculdades internas latentes na generalidade da espécie humana, que lhe permitem conhecer o mundo espiritual e as relações do homem com a Divindade. Pelo conhecimento íntimo de si mesmo, o homem se torna capaz de conhecer a Vida universal e suprema, uma vez que o Espírito humano é uma parte do Espírito universal (DEUS)...”
No Livro “A Vida Oculta e Mística de Jesus” de A. Leterre (Ed. Madras – 2004), encontramos logo no inicio de tal obra, em sua “Introdução” e “Explanação” textos que demonstram estas “igualdades” e “coincidências” entre as religiões, mostrando alguns elementos que foram claramente apropriados. O que choca é que muito raramente uma dá o braço a torcer de que tal valor foi “importado” de outra cultura ou culto religioso, já que a prática comum entre religiões é diminuir a outra e quando não até chegam ao ponto de “demoniza-la” fazendo com que seus fiéis creiam que as divindades alheias são “demônios”.
Vejamos algumas passagens da “Introdução” e “Explanação” desta obra impar para o estudo das religiões:
Continua....
Um comentário:
Que Blog maravilhoso!!
Precisamos difundir e tirar os preconceitos de nossa religiao!
Parabens!!1
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