Olá a todos, segue abaixo um texto de meu irmão, amigo e Mestre Wagner Veneziani Costa. Apenas para quem gosta, realmente, de estudar e se aprofundar. Hades é para a Cultura Grega uma divindade muito próxima ao Anúbis Egípcio e ao Orixá Omulu para nós Umbandistas. Fica também a dica do Blog “O Editor”: http://blog.madras.com.br/
Hades - o Deus do Mundo Subterrâneo
Por Wagner Veneziani Costa
No princípio tudo era o Caos. Tudo existia, porém não havia ordem. A fonte de todas as coisas pairava latente em sua natureza. Em um determinado instante, uma ordem se manifestou e surgiu então a primeira divindade concreta: Gaia, a Terra, a Grande Mãe.O verbo grego correspondente a “mito” significa calar. O silêncio sempre foi a marca da Iniciação. O iniciado não desvela o sigilo que lhe foi transferido a não ser por meio de parábolas ou alegorias (alegoria significa, literalmente, falar de outro modo).
Em uma definição bem simples, mito é uma história de ficção ou parcialmente verdadeira. É obvio que um mito é muito mais que isso… Um mito é uma história religiosa. Uma força ou entidade superior sempre está envolvida na trama. Os deuses e deusas ou outros seres sobrenaturais são sempre reverenciados pela humanidade. Considerando como verdade, o mito é tido como sagrado para aqueles que fazem parte de sua cultura.
Ele oferece uma explicação sobre algo desconhecido, como a criação do Universo e da Terra. Também tenta responder àquelas questões amplas e fundamentais que fazemos, como o significado e o objetivo da nossa existência.
Um mito é parte de uma mitologia maior, que incorpora muitos mitos. Todos eles interligados por uma semelhança ou um tema comum. Ao se constituir desse modo, a Mitologia torna-se uma verdade socialmente aceita.
Os mitos freqüentemente enfocam histórias sobre a interação direta entre os homens, os deuses e as deusas. Muitas vezes esses deuses e deusas são guiados pela emoção e não pela razão. Em virtude disso, a interação entre o homem e a divindade nem sempre é harmoniosa, e sim quase sempre dramática.
Uma das principais funções do mito é explicar o desconhecido. Os mitos sempre contêm símbolos que coordenam os anseios e temores humanos com os grandes fenômenos naturais.
Mitologia Grega
A Mitologia Grega é uma das mais geniais concepções que a humanidade produziu. Os gregos, com sua fantasia, povoaram o céu e a terra, os mares e o mundo subterrâneo de Divindades Principais e Secundárias. Amantes da ordem, eles instauraram uma precisa categoria intermediária para os semideuses e heróis. A Mitologia Grega apresenta-se como uma transposição da vida em zonas ideais. Superando o tempo, ela ainda se conserva com toda a sua serenidade, equilíbrio e alegria.
O início da filosofia grega, no século VI a.C., trouxe uma reflexão sobre as crenças e mitos do povo grego. Alguns pensadores, como Heráclito, os Sofistas e Aristófanes, encontraram na Mitologia motivo de ironia e zombaria. Outros, como Platão e Aristóteles, prescindiram dos deuses do Olimpo para desenvolver uma idéia filosoficamente depurada sobre a divindade. Enquanto isso, o culto público, a religião oficial, alcançava seu momento mais glorioso, em que teve como símbolo o Partenon ateniense, mandado construir por Péricles. A religiosidade popular evidenciava-se nos festejos tradicionais, em geral de origem camponesa, ainda que remoçada com novos nomes. Os camponeses cultuavam Pã, deus dos rebanhos, cuja flauta mágica os pastores tentavam imitar; as ninfas, que protegiam suas casas; e as nereidas, divindades marinhas.
As conquistas de Alexandre, o Grande, facilitaram o intercâmbio entre as respectivas mitologias, de vencedores e vencidos, ainda que fossem influências de caráter mais cultural do que autenticamente religioso. Assim é que foram incorporados à religião helênica a deusa frígia, Cibele, e os deuses egípcios Osíris, Ísis e Serápis. Pode-se dizer que o sincretismo, ou fusão pacífica das diversas religiões, foi a característica dominante do período Helenístico.
De acordo com os gregos, os deuses habitavam o topo do monte Olimpo, principal montanha da Grécia Antiga, morada dos deuses e deusas, centro de poder, por assim dizer. Desse local, comandavam o trabalho e as relações sociais e políticas dos seres humanos. Os deuses gregos eram imortais, porém possuíam sentimentos de seres humanos. Ciúme, inveja, traição e violência também eram características encontradas no Olimpo. Muitas vezes, apaixonavam-se por mortais e acabavam tendo filhos com estes. Dessa união entre deuses e mortais surgiam os heróis.
Zeus, deus de todos os deuses, senhor do Céu; Afrodite, deusa do amor e da beleza, talvez você a conheça como Vênus que é o nome romano dessa deusa; Poseidon, irmão de Zeus, deus dos mares, dos lagos e das nascentes; Hades, deus dos mortos, dos cemitérios e do subterrâneo; Hera, deusa dos casamentos e da maternidade; Apolo, irmão gêmeo de Ártemis, deus da arquearia, da música, da poesia, das artes em geral; Ártemis, deusa da caça e protetora das crianças; Ares, deus da guerra, tinha prazer na destruição; Atena, deusa da sabedoria, da serenidade, da guerra, das artes e da técnica; Hermes, deus do comércio, da luta e da sorte, informalmente era mais conhecido como o mensageiro dos deuses; Hefestos, divindade do fogo e do trabalho.
Os gregos enxergavam vida em quase tudo que os cercava, e buscavam explicações para tudo. A imaginação criativa e fértil desse povo criou diversos personagens e figuras mitológicas: os Heróis (seres mortais, filhos de deuses com seres humanos, como por exemplo: Heracles ou Hércules e Aquiles); as Ninfas (seres femininos que habitavam os campos, levando alegria e felicidade); os Sátiros (figura com corpo de homem, chifres e patas de bode); os Centauros (corpo formado por uma metade de homem e outra de cavalo); as Encantadoras Sereias (mulheres com metade do corpo de peixe que atraíam os marinheiros com seus cantos atraentes e os hipnotizavam com sua beleza); as Górgonas (mulheres, espécies de monstros, com cabelos de serpentes, exemplo: Medusa); as Quimeras, (uma mistura de leão e cabra que soltavam fogo pelas ventas).
Todos esses seres habitavam o mundo material, tendo uma enorme influência em suas vidas. Bastava ler os sinais da natureza, para conseguir atingir seus objetivos. A Pitonisa era uma espécie de sacerdotisa, importante personagem nesse contexto. Os gregos consultavam-na em seus oráculos para saber sobre as coisas que estavam acontecendo e também sobre o futuro. Quase sempre, a Pitonisa buscava explicações mitológicas para tais acontecimentos. Agradar uma divindade era condição fundamental para atingir bons resultados na vida material. Um trabalhador do comércio, por exemplo, deveria deixar o deus Hermes sempre satisfeito, para conseguir bons resultados em seu trabalho.
Opa, eu fui convidado para escrever sobre Hades, o que estou fazendo?
Voltando a Hades…
Hades ganhou o reino dos mortos quando os irmãos divinos dividiram os domínios entre si. Você pode pensar que Hades ficou com a parte pior, mas esse reino combinava perfeitamente com ele. Hades era um deus solitário, sombrio e sinistro, que adorava ficar sozinho. Embora fosse sempre descrito pelos antigos como sendo frio, ele nunca foi associado ao demônio. Era simplesmente o Senhor da Morte. Desempenhava suas atividades com um inegável senso de responsabilidade e as completava com eficácia. Por isso, não dava espaço para pena ou qualquer outro sentimento que pudesse atrapalhar seu trabalho.
Hades era um dos seis olímpicos originais. Como ele não fazia nenhuma questão de estar entre os outros, e por isso muito raramente visitava o Monte Olimpo, ficou praticamente banido da companhia de seus irmãos. E isso combinava perfeitamente com Hades, pois não tinha a menor vontade de fazer parte do conselho divino. Mas nem por isso os seus poderes eram menores, porque nenhum outro deus se intrometia no Mundo Subterrâneo. Ele tinha o controle absoluto de seu reino, e mesmo Zeus evitava interferir no seu comando.
Embora Hades fosse um deus completamente solitário e que raramente deixava seu reino para visitar a terra dos vivos, dizem que ele visitou a terra dos vivos pelo menos uma vez. Foi durante essa visita que se deparou com a beleza de Perséfone, filha de Deméter e Zeus.
Como diz a lenda, Perséfone estava colhendo flores em uma planície na Sicília, acompanhada pelas ninfas, quando Hades se deu conta dela, ficou imediatamente impressionado com sua beleza e sequer perdeu tempo em cortejá-la. Em vez disso, simplesmente a raptou e a levou para o Mundo Subterrâneo.
Lá, Perséfone ficou prisioneira. Como você pode imaginar, sua mãe ficou completamente deprimida com o desaparecimento repentino da filha e correu o mundo em busca de Perséfone.
É importante, nesse ponto, falarmos sobre a deusa da fertilidade, da colheita e dos cereais, Deméter. Deusa da terra, ela preferia passar a maior parte de seu tempo bem próxima ao solo. Assim, acabava permanecendo apenas o necessário no Monte Olimpo. Mas isso não significa que Deméter não se fazia notar entre os deuses. Ao contrário de Hades, ela era completamente envolvida com os acontecimentos na morada dos deuses olímpicos e sempre participava de conselhos ou tribunais. Mas sua presença era mais bem sentida na terra. Era por isso que ela, mais do que qualquer outro deus, podia reivindicar para si o controle da terra. Com seu domínio, a terra era seu lar.
Deméter era uma deusa muito popular por toda a Grécia antiga. Alguns mitos atribuem essa popularidade ao fato de ela sempre estar entre os homens, viajando de um campo a outro. Outros dizem que sua popularidade advém da necessidade de sua bênção. Como era a deusa da colheita e dos cereais, os antigos dependiam dela para conseguir a comida necessária para sobreviver. Era, portanto, natural que ela gozasse de imenso prestígio entre eles.
Por outro lado, sua popularidade pode ser creditada ao simples fato de ela ser uma deusa boa e generosa (representa o signo de Virgem – uma virgem regando a terra com ramos de trigo em sua mão). Ao contrário de Poseidon, que era mais temido do que amado, Deméter era mais amada e respeitada do que temida. Mas, de qualquer modo, ela continuava sendo uma deusa e por isso precisava ser reverenciada, pois detinha tanto o poder da destruição quanto o da criação.
Apesar de Deméter ser uma deusa bondosa, não podemos esquecer de que as divindades sentiam as mesmas emoções que os humanos. Em um instante, sua generosidade poderia transformar-se em crueldade, o que poderia deixá-la simplesmente assustadora. Quando Deméter perdeu sua filha, deixou que a emoção tomasse controle, o que resultou em tempos terríveis para a humanidade.
Um outro exemplo da crueldade nada habitual de Deméter foi vivenciada por um ímpio jovem, Erísicton.
Erísicton era filho do rei de Dotion. Ele teve a idéia de construir um grande salão para banquetes, mas precisava de madeira para conseguir erguê-lo. Como não tinha respeito pelos deuses, entrou em um bosque de carvalho sagrado, que pertencia a Deméter, e foi cortando as árvores de que precisava para construir seu salão.
Quando começou a cortá-las, as árvores começaram a verter sangue dos ferimentos. Um homem que por ali passava chegou a alertá-lo para não cometer tal sacrilégio, mas Erísicton desafiou e degolou o pobre homem. E não parou, continuou sua tarefa; três espíritos gritaram em desespero e chamaram por Deméter.
Ela se aproximou de Erísicton disfarçada de sacerdotisa. Em um primeiro momento, implorou para que ele parasse de cortar as árvores, mas quando ele se negou a fazê-lo, ela ordenou que ele saísse do bosque. Rindo da audácia da sacerdotisa, Erísicton ameaçou-a com um machado. Deméter recuou e disse a ele para continuar porque ele iria mesmo precisar de uma sala de jantar. Ela estava estarrecida com esse ultrajante ato de sacrilégio. Era algo que ela não poderia deixar por isso mesmo. Então, chamou Peina (a Fome) para atormentar Erísicton pelo resto de sua vida. Peina ficou grata por ajudar Deméter e imediatamente saiu em busca do garoto inescrupuloso.
E foi feito, fazendo-o ter um incontrolável desejo de comer e nunca se sentir saciado. Ele comia tudo o que via, mas sem conseguir alívio. Em poucos dias, ele gastou toda a sua fortuna em comida, embora ainda não se sentisse saciado.
Finalmente, tornou-se um pedinte, sem ter nada mais que uma filha. Sua filha vendeu-se como escrava para ajudá-lo a conseguir alimento. Como não dispunha de mais nada, Erísicton começou a comer as próprias pernas. Mas isso não deu nenhum resultado e ele continuou faminto. Erísicton enlouqueceu, devorou o resto de sua própria carne e, assim, morreu.
Dá para perceber que Deméter era uma deusa que não devia ser contrariada. Doce como uma flor, na maior parte do tempo, ela tinha um lado cruel que brilhava de tempos em tempos, quando a situação pedia por isso.
Mas o mito mais popular estrelado por Deméter é aquele em que divide o papel principal com sua filha Perséfone. Lembra-se que Perséfone havia sido raptada por Hades e do desespero de Deméter quando soube disso? Deméter não queria saber de mais nada, e sim procurar a sua filha. Todas as suas tarefas e responsabilidades como deusa da colheita e da fertilidade foram postas de lado por causa da tragédia. Em sua busca frenética, Deméter chegou a percorrer o mundo, vagou por toda a Terra, por nove dias e nove noites, com uma grande tocha na mão. Durante esse tempo ela não comeu, não dormiu, nem bebeu.
No décimo dia, encontrou Hécate, uma divindade menor, que sabia do rapto, mas não sabia informar quem o tinha o praticado. Contudo, Hécate levou Deméter até Hélio, o deus Sol, que, em virtude de sua visão onisciente do mundo, tinha testemunhado o rapto. Hélio contou a história que havia presenciado para Deméter e tentou convencer-lhe de que sua filha estava bem com Hades.
Deméter ficou tomada pela fúria, pela dor e pela tristeza. Abandonou o Monte Olimpo e todas as suas responsabilidades como deusa. Sua saída deixou o mundo em um verdadeiro caos, completamente castigado pela seca e pela fome. A terra agora era estéril, e tanto a vegetação nativa quanto as plantações morreram, enquanto as novas se recusavam a crescer.
Nas viagens narradas por Homero, Deméter estava determinada a se esconder na Terra até que sua filha retornasse e, por isso, começou a vagar pelos campos. Algumas vezes ela era recebida com acolhimento, outras vezes era ridicularizada. Quando foi recebida na casa de Misme, ofereceram-lhe umas bebidas, como um ato de bem receber. Mas como ela sorveu o líquido muito rapidamente, porque obviamente estava morrendo de sede, o filho de Misme zombou dela. Furiosa com o desrespeito às regras de hospitalidade, Deméter atirou sua bebida no garoto, transformando-o num lagarto.
Cheia de dor, transformou-se em uma velha senhora enquanto estava em Elêusis. Lá, parou ao lado de um poço para descansar. A filha do rei Céleo aproximou-se da velha senhora e a convidou para se refrescar em sua casa. Deméter, tocada com o gesto de bondade da moça, concordou, e foi com a garota até o palácio. Lá, foi tratada com imensa cordialidade não só pela filha do rei como também pela rainha. Deméter ficou impressionada com aquela casa e com uma mulher em particular, Iambe, que era a filha de Pan e uma criada na casa de Céleo. Iambe era jovem e era a única pessoa que fazia com que Deméter sorrisse.
Deméter tornou-se criada da casa dos Céleo, juntamente com Iambe. Como logo ganhou a confiança da rainha, tornou-se a babá do príncipe Demofonte, em quem encontrou o consolo que só uma criança poderia lhe oferecer. Ela decidiu conceder a imortalidade ao menino. Para fazer isso, Deméter alimentou-o com ambrosia e o colocou na lareira para que o fogo queimasse a sua mortalidade. Mas ela foi descoberta pela rainha, que interrompeu a ação com um berro. Deméter, furiosa com a interrupção, deixou a criança cair.
De volta à sua forma natural, Deméter ordenou que a casa real construísse um templo para ela. Ensinou-os também a praticar de modo adequado os ritos religiosos em sua homenagem. Essa prática mais tarde se tornou conhecida como os Mistérios de Elêusis.
Esses Mistérios eram os ritos religiosos praticados em homenagem a Deméter e Perséfone, os mais importantes em toda a Grécia antiga. Lembre-se que foi na cidade de Elêusis que Deméter permaneceu a maior parte do tempo de luto por sua filha. Ali, o templo foi construído em sua honra e era onde os Mistérios de Elêusis eram praticados. Dizem que foi a própria Deméter quem instituiu o culto e ensinou o povo como lhe prestar homenagens corretamente.
Como era um culto secreto, era considerado uma religião de mistério. Apenas aqueles formalmente iniciados podiam participar, e nenhuma palavra sobre o que acontecia durante os rituais podia ser dita. Quem quisesse ser iniciado deveria antes preencher alguns requisitos. Por exemplo, um devoto não poderia ter derramado sangue em nenhum momento de sua vida. As mulheres e os escravos eram proibidos de participar.
Os mistérios religiosos incluíam os cultos Dionísicos, Órficos e Cabiri, e, naturalmente, os Mistérios de Elêusis.
Vamos conhecer o cativeiro de Perséfone, o Mundo Subterrâneo. Zeus envia Hermes para conversar com Hades para convencê-lo a libertar Perséfone. Hades não poderia admitir desistir de Perséfone, mas a mensagem enviada por Hermes era para ser interpretada como uma ordem direta de Zeus. Hades não tinha outra escolha a não ser deixar a menina partir. Contudo, ele utilizou um truque.
Via de regra, todo mundo que comesse algum alimento nas dependências do Mundo Subterrâneo não poderia retornar à terra dos vivos. Enquanto fingia acatar as ordens de Zeus e libertar Perséfone, Hades também enganou a menina, dando-lhe algumas sementes de romã. Perséfone comeu-as enquanto ainda estava no Mundo Subterrâneo, portanto, ela passara a pertencer àquele Mundo.
Zeus não podia negar essa Lei. Contudo, como Deméter estava tão desolada e como Hades, em um certo sentido, havia desobedecido Zeus, este chegou a um meio termo. Perséfone viveria com Hades no Mundo Subterrâneo durante três meses do ano e moraria com sua mãe na terra nos outros oito meses.
Perséfone tornou-se, assim, a mulher de Hades e, depois, rainha do Mundo Subterrâneo. Ela desempenhou muito bem suas tarefas como mulher (esposa) e rainha. Dizem que ela correspondeu ao amor de Hades.
O Mundo Subterrâneo, a Terra dos Mortos, Região de Baixo, a Morada de Hades, Inferno, esses eram alguns dos nomes que as pessoas usavam para se referir ao Mundo Subterrâneo, que também tinha suas leis e possuía várias divisões. Imaginem uma prisão com diferentes blocos com celas. Um bloco de celas era para as pessoas comuns, outro para os realmente excepcionais, normalmente heróis, e um terceiro bloco, para os muito maus, aqueles que precisavam de punição. Mas é óbvio que existia muito mais do que “esses blocos de celas”.
Dizem que quando uma pessoa morre, Hermes vem apanhar sua alma para guiá-la até o Mundo Subterrâneo. Deve também atravessar pelo menos um rio, pois são muitos os rios que cercam a Terra dos Mortos: Aqueronte, o Rio da Dor; Cocito, o Rio da Lamentação; Lete, o Rio do Esquecimento; Pyriphlegethon, o Rio do Fogo; e Styx, o Rio do Ódio. Para fazer essa travessia, era preciso utilizar os serviços de Caronte (filho de Erebo e da Noite), o barqueiro dos mortos. Ele exigia uma moeda como pagamento. Contudo, apenas conduzia o barco, e era a alma que teria todo o trabalho de remar. Se, por acaso, a alma não tivesse dinheiro para pagar os serviços, era obrigada a vagar depois da linha do oceano por cem anos, para depois ganhar direito de embarcar novamente.
Depois de sofrer a recepção de Caronte, o morto tinha que passar por Cérbero, o cão de Hades (cão com três cabeças e três gargantas, que guardava as portas dos Infernos e do palácio de Plutão, (o deus romano do Inferno ou do Submundo). Cérbero nasceu do gigante Tífon e de Equidna. Ele agradava as almas infelizes que desciam aos infernos e devorava as que dali queriam sair. Quando Orfeu foi buscar Eurídice, ele fez Cérbero adormecer ao som de sua lira; Héracles (Hércules) teve que descer ao reino dos mortos como um dos 12 trabalhos exigidos por Euristeu; Enéias foi visitado pelo fantasma de seu pai na terra dos vivos e foi visitá-lo na terra dos mortos, antes de entrar pelos Portões do Mundo Subterrâneo. Cérbero adorava comer carne fresca e certamente não era o melhor amigo dos homens. Mas parecia se dar bem com as almas que ali entravam. Ele só atacava as que tentassem fugir.
Viajando pela rua Divisória, a alma encontrava uma bifurcação, onde era recebida pelos Juízes. Estes decidiam para que parte do Mundo Subterrâneo a alma seria levada para morar para sempre.
Tornou-se um hábito entre os antigos colocar uma moeda embaixo da língua dos entes queridos que morriam. Isso permitia que eles pudessem pagar os serviços de Caronte e cruzar o reino dos mortos. Aqueles que não eram enterrados adequadamente, ou sequer fossem enterrados, não conseguiam obter permissão para entrar no Mundo Subterrâneo e ficavam vagando por cem anos.
Mas vamos saber mais a respeito daqueles “blocos de cela”. Elíseos, algumas vezes conhecido como Campos Elíseos, era uma ilha para os abençoados. Era para onde os muito bons, geralmente heróis, eram enviados depois da morte. Elíseos era um paraíso em todos os sentidos, onde homens e mulheres curtiam a vida na morte. Jogava-se, tocava-se música e todo mundo se divertia. Os campos eram sempre verdes e o sol sempre brilhava.
Alguns mitos, porém, não fazem distinção entre o esplendor de Elíseos e os Campos de Asfodel. Aqueles que eram mandados para os Elíseos não podiam saber a diferença. Como todas as almas eram meramente almas, nenhuma delas poderia adivinhar o que estava acontecendo ao seu redor, e determinar o lugar onde estavam. Mesmo assim, esse é considerado o melhor “bloco” dos três.
Os Campos Asfodel era um lugar de limbo. Não era nem bom nem ruim; era um local para o descanso final dos seres mais comuns. Esse lugar era o que abrigava mais almas do que os Elíseos e o Tártaro juntos.
As almas, geralmente nos Campos de Asfodel, desempenhavam as mesmas atividades realizadas em vida. A memória não era cultivada. Por isso, uma alma existia e agia, na maior parte do tempo, como uma máquina, sem nenhuma individualidade. Um lugar neutro, sem nenhuma qualidade positiva nem negativa. Um lugar monótono, sem novidades.
O Tártaro, ficava abaixo do Mundo Subterrâneo. Acreditava-se que a distância entre o Mundo Subterrâneo e Tártaro era a mesma entre a Terra e o céu. Um lugar escuro e triste e era onde os maus eram mandados para punição eterna.
Como o leitor percebeu, a menos que você fosse protegido pelos deuses e fosse enviado aos Elíseos, a vida depois da morte não prometia muita coisa. Os simples mortais, realmente, não tinham o que esperar da morte. Por causa desse desalento é que muitos ritos e cultos religiosos surgiram, como, por exemplo, muitas das crenças novas centradas em uma divindade individual (como Deméter e Dionísio). Supostamente, essas divindades ofereciam àqueles que tivessem fé os segredos do Mundo Subterrâneo, incluindo o mapa do lugar, com todos os seus rios e nascentes, para se evitar beber delas e, portanto, assegurar a morada nos Elíseos. Começa uma nova esperança de uma pós-morte mais digna, muitos se tornaram bastantes crentes e devotos à sua religião e divindade.
Depois que a Grécia foi anexada ao Império Romano, a Mitologia Grega passou a fazer parte de Roma, e os deuses e deusas apenas mudam de nome.
Baseando-se no panteão das divindades gregas, uma nova psicologia foi apresentada por Jean Shinoda Bolen (psiquiatra e analista junguiana) em seu livro Os Deuses e o Homem, que usou os conceitos de Carl Jung para estudar os oitos deuses gregos que corres-pondem a oito tipos de personalidade masculina. Nas próximas linhas, transcreveremos apenas os arquétipos de Hades:
“Todo aquele que gosta de ficar sozinho, curte a privacidade e não se importa muito com o que se passa no mundo, leva a existência de Hades. O Hades ‘puro’ é solitário e vive em seu reino interior. O homem-Hades é introvertido e geralmente alheio às regras de etiqueta e frivolidades. Não está ‘nem aí’ com o que as outras pessoas pensam dele. No trabalho se afina com tarefas repetitivas que lhe permitam certa exclusão. No amor, quando se apaixona, vive experiências profundas com sua parceira e é somente ela que consegue arrancá-lo da toca.Todo homem-Hades tem predisposição para ser solitário e sentir-se inadequado em um mundo muito competitivo, ele se recolherá para dentro de sua concha interior e para uma vida de esterilidade emocional. No mundo de Zeus, ele enfrenta muitas dificuldades, pois se sente inferior, um estranho no ninho. Fora de seu reino, verifica que só é recompensado todo aquele que atinge o topo, que adquire status, que se expõe e que corre riscos. Essa cultura extrovertida dominante é estranha ao homem de Hades, porque lhe faltam a ambição e a comunicação. A menos que desenvolva outros arquétipos, ficará à margem da estrada e só se encaixará em trabalhos que não ofereçam desafios, pois sua vida real é ‘interior’.
Um Hades comete todas as ‘gafes’ possíveis em reuniões sociais e diante de uma mulher. É natural, portanto, que muitas vezes seja rejeitado. A única experiência sexual do deus Hades foi com Perséfone que a raptou e a estuprou. A vida pode seguir o mito, mas o homem-Hades que se cuide, porque diferentemente de Zeus e Poseidon, ele tem menos credibilidade e poder e pode vir a ser denunciado e rotulado.
O casamento para este homem é crucial, pois sem ele será solitário e excluído. É por meio da esposa e dos filhos que irá relacionar-se com a sociedade. Como pai é sombrio, mal-humorado, sem emoção e só espera de seus filhos organização e dever cumprido. Entretanto, pode compartilhar com as crianças o tesouro de sua vida interior.
O maior problema que um homem-Hades cria para os outros sendo como ele é, é que vive em um mundo ‘a parte’, sem se dar chance de envolver-se emocionalmente com outras pessoas. O que se espera é que ele se comunique e nos conte o que acontece lá embaixo. Amar alguém como Hades é bem difícil, pois a qualquer momento pode tornar-se invisível e inabordável. O melhor modo de um Hades crescer é combiná-lo com um Hermes, pois era por intermédio deste último deus que as imagens e as sombras do mundo inferior eram entendidas e comunicadas aos outros.”
O assunto é vasto e fascinante, mergulhe nesse mundo fantástico que é a Mitologia e veja o quanto ainda temos para aprender. Não tema, conheça mais a respeito do mundo de Hades, em suas leituras. Na próxima edição, pretendo discorrer a respeito de outro deus bastante interessante: Pan.
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