Jornal de Umbanda Sagrada


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Que Oxalá nos abençoe, Alexandre Cumino e Marina Cumino.



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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Sabedoria

Não ame pela beleza, pois um dia ela acaba;


Não ame por admiração, pois um dia você se decepciona;

Não ame por dinheiro, porque um dia ele também acaba...

Ame... apenas...

Pois o tempo nunca pode acabar com um amor sem explicação.

Madre Tereza de Calcutá

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sabedoria

Podemos escolher recuar em direção à segurança
ou avançar em direção ao crescimento.
A opção pelo crescimento tem que ser feita repetidas vezes.
E o medo tem que ser superado a cada momento.
Abraham Maslow

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Renascer é Preciso - Boa Páscoa a Todos

Por Douglas Fersan

Nessa semana comemoramos a Páscoa, uma festa tradicionalmente cristã – e católica em especial. O significado da Páscoa é o renascimento, a renovação, a nova vida. E, embora seja uma tradição católica, não podemos negar que renascer e renovar é sempre importante. Jogar fora os sentimentos negativos, que nada acrescentam e que só funcionam como uma peçonha que percorre as veias no lugar do sangue, contaminando o corpo e a alma é salutar para todos, pouco importando a religião, pois o que vale é evoluir enquanto seres humanos e espirituais, criaturas de Olorum, que nos quer límpidos e serenos.

Do Orum, o céu dos Orixás, podia-se observar o Aiê, a morada dos humanos na Terra. Sentado e apoiando o cotovelo sobre um dos joelhos e o queixo sobre o punho, Oxalá observava a movimentação intensa dos homens, que em sua frenética corrida do dia-a-dia, esqueciam sua essência divina, esqueciam que eram irmãos e esqueciam até mesmo que deviam respeito uns aos outros.

Alguns homens preocupavam-se tanto com seus problemas terrenos (trabalho, dinheiro, compromissos profissionais) que sequer lembravam de si mesmos. Não se davam o direito de passar algumas horas com as pessoas que amavam (isso quando lembravam de amar), não se permitiam uns momentos de diversão, nem mesmo ouvir uma boa música a fim de sensibilizar a alma e serenar o corpo. Estavam completamente tomados pelo espírito do desespero: o desespero de cumprir suas tarefas terrenas.

Outros já haviam se contaminando tanto com a negatividade que cercava o Aiê, que tornaram-se verdadeiros algozes de seus semelhantes. Pouco se importavam com a dor e o sofrimento alheio – havia até os que sentiam prazer com isso. Uma verdadeira marginalia havia se formado e amedrontava a humanidade. E é claro que seres espirituais trevosos e oportunistas se aproveitam dessa situação para disseminar o ódio, o medo, o desequilíbrio e a desordem na Terra.

Havia também os que já não sentiam amor. Enxergavam isso como um sentimento do passado ou talvez algo que nunca existiu. Olhavam apenas para o próprio umbigo e pouco se importavam se para atingir seus objetivos tivessem que pisar em seu semelhante e ferir a ética, já tão maltratada e esquecida. Até o nome de Olorum, nas mais diversas denominações, era usado para atender interesses mesquinhos.

Não faltavam aqueles que se entregam à luxúria. O sexo, ato de perpetuação e consagração do amor, tão abençoado em sua essência, havia sido banalizado ou convertido em um produto, sendo comercializado das mais diversas formas.

Sereno e calmo como sempre, Oxalá observou tudo aquilo. Mas Oxalá não era intempestivo e nem perderia a fé – trono o qual ele ocupava com excelência. Oxalá acreditava em seus filhos; Oxalá acreditava na humanidade.

Sem esboçar qualquer movimento, Oxalá sentiu a aproximação dos demais Orixás divinos. Nada disse, apenas esboçou um sorriso.

Iansã, cheia de determinação e vontade de resolver as situações, balançou sua mão em direção aos céus, como se fosse uma ventalora, e nuvens escuras cobriram todo o Aiê.

Não demorou para que Xangô lançasse seu oxé – machado de lâmina dupla – em direção às nuvens, provocando fortes trovões, atraindo a atenção dos homens que caminhavam sobre a Terra. Por um instante todos esqueceram suas questões mundanas e mesquinhas e preocuparam-se apenas com a tempestade que se aproximava.

Delicadamente Oxum brandiu as mãos e as nuvens descarregaram uma água doce e límpida, que como uma cachoeira lavou o corpo dos homens, que sentindo aquele frescor inesperado, porém reconfortante, nem fizeram questão de esconder da chuva que caía. Cada ser que habitava a Terra deixava a água escorrer sobre seu corpo, levando consigo todas as negatividades que vinham nutrindo há muito tempo. Foi como um banho, que higienizou não o corpo, mas a alma, de toda a sujeira que a tornava densa e distante de sua centelha divina.

Em seguida Iemanjá entoou seu canto inconfundível, que penetrou não apenas os ouvidos, mas cada poro do corpo dos homens, que olharam espantados uns aos outros. Sob a vibração maternal da senhora da vida, da rainha do mar – que gerou a vida – os humanos olharam-se não mais como rivais ou simples desconhecidos. Cada um reconheceu no outro o seu irmão, o seu semelhante, um ser que mesmo não conhecendo, amava como um membro da família, pois identificaram-se todos como filhos da mesma geração divina que lhes dava a vida.

Aproveitando-se desse momento oportuno, Ogum quebrou todas as demandas existentes no Aiê: rancores, inveja, maledicência, desejos de vingança e todas as formas de pensamentos e sentimentos, que mais nocivos que qualquer magia negra, alimentavam a mente dos homens e matavam a sede dos seres trevosos e oportunistas.

Oportunamente o velho Omolu chacoalhou a sua veste de palhas, curando toda doença da alma humana e colocando fim a todo desequilíbrio que reinava sobre o Aiê. Foi como se toda a humanidade junta ingerisse um remédio milagroso para todos os seus males.

Foi a vez de Oxóssi atirar suas setas sobre cada coração e com elas disseminar a sabedoria em cada coração, a sabedoria que fez com que cada um abandonasse o passado escuso e refletisse sobre a própria postura, tendo a coragem e a vitalidade suficiente para superar os erros cometidos.

Nanã de Buruquê fez um movimento lento com a mão trêmula – daqueles movimentos típicos dos mais velhos, e a chuva cessou. A água, que havia lavado os homens dos sentimentos e atitudes tão ruins, correram em direção aos pântanos, onde seriam encerradas e de onde não deveriam mais sair.

Então, do Aiê, a Ibeijada lançou a alegria típica das crianças, que imediatamente contaminou a todos. Exatamente como as crianças fazem quando brincam, os homens se abraçaram e compartilharam sua alegria. Do distante Orum era possível os risos de alegria, tão pueris, vindos da Terra. Sem qualquer medo de ser feliz, os homens se abraçavam, davam-se as mãos e até brincavam, deixando de lado aquele ar sisudo que até tão pouco tempo atrás lhes contaminava o semblante. Não houve espírito soturno que suportasse tanta alegria: todos fugiram daquela energia maravilhosa que contaminava o Aiê.

A Terra não era a mesma. Estava renovada, assim como seus habitantes. Cada um deles havia recebido a emanação dos Orixás que habitam o Orum e tinham reencontrado sua verdadeira essência divina que dá a vida e que deve guiar as atitudes de cada ser que caminha sobre a Terra. A essência que tantas vezes havia sido esquecida em virtude dos problemas, preocupações e mesquinhez de cada um. Os velhos homens haviam “morrido”, mas renasceram imediatamente, livres de qualquer desvio que os afastasse do Divino Criador. Era o renascimento, era a renovação, era a “páscoa” interna de cada um.

Com outro breve sorriso, Oxalá olhou docemente para os demais orixás, que retribuíram a simpatia e cada um tomou seu rumo.

Do mesmo lugar onde se encontrava, Oxalá fez um breve aceno para Exu, que se encontrava na Terra. Exu respondeu ao cumprimento e abriu todos os caminhos da humanidade, que como quem se encontrava numa encruzilhada de múltiplas direções, agora tinha vários novos caminhos a percorrer.

Embora a Páscoa seja uma celebração católica, nada impede a nós, umbandistas, que deixemos a centelha divina dos Orixás brilhar em nossas vidas, nos fazendo renascer melhores a cada dia.

Autor: Douglas Fersan



Boa Páscoa a todos.

domingo, 24 de abril de 2011

Páscoa tem sentido de renovação

Sabedoria

EM VERDADE

O santo não condena o pecador. Ampara-o sem presunção.
O sábio não satiriza o ignorante. Esclarece-o fraternalmente.
O iluminado não insulta o que anda em trevas. Aclara-lhe a senda.
O orientador não acusa o aprendiz tateante. A ovelha insegura é a que mais reclama o pastor.
O forte não malsina o fraco. Auxilia-o a erguer-se.
O humilde não foge ao orgulhoso. Coopera silenciosamente, em favor dele.
O sincero a ninguém perturba. Harmoniza a todos.
O simples não critica o vaidoso. Socorre-o , sem alarde, sempre que necessário.
O cristão não odeia, nem fere. Segue ao Cristo, servindo ao mundo.
De outro modo, os títulos de virtude são meras capas exteriores que o tempo desfaz.
André Luiz por meio de Francisco Cândido Xavier

sábado, 23 de abril de 2011

A Umbanda é Cristã? O Umbandista é Cristão? Uma visão particular e pessoal Por Alexandre Cumino

Olá meus irmãos, faço parte de umas 5 ou 6 listas de debates sobre Umbanda.
Tenho uma grande dificuldade em ler todos os e-mails que chegam por aqui.
Tenho na caixa postal centenas de e-mails não respondidos, por não dar conta de
Tudo que chega. No entanto fiz a proposta, nas listas virtuais, de apresentar
Nossas opiniões sobre o assunto Cristianismo e Umbanda.
Coloco abaixo minha reflexão sobre o assunto com passagens das
Colocações de outros irmãos, espero que tenham uma boa leitura.
Alexandre Cumino
A Umbanda é Cristã? O Umbandista é Cristão?
Uma visão particular e pessoal
Por Alexandre Cumino

Tenho certa dificuldade em ler tudo que chega por aqui, mas como fiz esta proposta, fiz questão de ler todos os e-mails sobre este tema. Se agente conseguisse ter assuntos que interessam a todos ou a maioria e cada um colocasse sua opinião creio que alcançaríamos os antigos e primeiros objetivos de todas as listas (de debates sobre Umbanda). Muito mais, cada um de nós carrega ensinamentos preciosos colhidos junto á espiritualidade de forma direta e outros por dedicação e estudo as religiões de forma geral e a Umbanda de forma específica.

Irmãos (a) Etiene, Arnaldo, Marcia, Sandro, Fabio, Alexandre, André, Edmundo, Douglas, Claudio, Erci, Cristina, Solano, Ciganinha, Victor, Ayrton, Eduardo, Marcus, Edson, Uilson... desculpe se esqueci alguém, a opinião de todos é muito imprtante, mesmo que pareça contraditória vamos aprendendo uns com os outros e vendo que em muito a verdade de um complementa a do outro e viceversa... Fiquei muito contente em ler tantas reflexões sobre a questão, Cristianismo e Umbanda, que inclusive nos faz lembrar quantos “umbandistas” se consideram católicos, espíritas ou afro-brasileiros...

A pergunta é genérica, se na “Umbanda” como um todo, em sua unidade, somos cristãos. Pois nas partes (Umbanda Branca, Pura, Tradicional, Popular, Esotérica, Eclética, Omolocô...) muitos já vem procurando definir o que sua “linha” ou “linharem” crê e defende. Creio que no geral, na Umbanda como um todo sempre teremos controvérsias, do ponto de vista “teológico”, de dentro, da doutrina de cada casa. Afinal “cada terreiro é uma escola”, produz conhecimento e valores seguidos por seus médiuns, alguns recebidos de forma direta da espiritualidade na presença dos guias-mentores da espiritualidade; as vezes absorvendo mais ou menos o que é e foi colocado por outros pensadores, médiuns e guias na religião, desde sua origem no plano material.

Tecnicamente as religiões Cristãs são aquelas que têm Cristo no ponto central e no alto de seu culto, assim é com as diversas nominações cristãs, dos antigos e primeiros grupos formados pelos apóstolos (judeus-cristãos) que seguiam a Cristo, passando pela Primeira Grande Instituição organizada e hierarquizada (Igreja Catolica), depois Ortodoxa, Luteranismo, Calvinismo etc. até chegar aos recentes neo-pentecostais.

Por esta questão de nomenclatura que, por exemplo e não como regra, Islã não se chama “Maometanismo” pois o Profeta Maomé (Mohamed) não está no centro da Religião e sim a “submissão”, sinônimo de Islã, no qual “muçulmano” quer dizer “submisso a Deus”. As “regras”, “código”, “doutrina” que regulam a tudo estão no “Corão” ou “Alcorão”.
Espiritismo não se chama “Kardecismo” por que não é Kardec e sim o ensinamento dos Espíritos que está no centro da doutrina.  “Budismo” é um termo usado para definir o conjunto de filosofias, doutrinas, ritos e “religiões” que nasceram das diversas interpretações da mensagem de Sidharta Gautama, “Um Budha” (Um Iluminado). No entanto setes seguimentos “budistas” se auto definem como Hinayana, Mahayana, Zen, Chan e outras vertentes generalizadas como Budismo. Geralmente no centro do Budismo estão as quatro nobres verdades e não a figura do “Budha”, mas todos sabem que Ele é o principio da doutrina e o modelo de iluminação. Assim nenhum Budista se chateia quando é chamado de budista, ao contrario de um espirita que “ortodoxamente” não aceita a definição de “kardecista”. Embora sejam “espíritas” Chico Xavier costumava se definir como “Espírita Cristão”, fazendo valer o “Evangelho Segundo Espiritismo” como um dos cinco livros do Código Espirita, organizado por Kardec, como bem lembrou o irmão Etiene Sales. 

A pergunta foi proposta na internet e pudemos observar várias respostas diferentes, umas buscando definições técnicas, outras falando de seu coração e terceiros com certa dificuldade em separar “Cristianismo” de “Catolicismo”.

Algumas respostas foram bem diretas e de alguma forma me tocaram e gostaria de revê-las, penas por exercício de reflexão comparada e análise dos valores de cada um.

Uma das primeiras respostas veio no Irmão Etiene Sales:
Vou dar um palpite naquilo que faço como Umbanda, mas já preparado para as madeiras e pregos. rss.
A Umbanda é um conjunto de diversas crenças e pode existir um aglomerado que em si se coloca como Cristão, mas na sua totalidade acredito que não. A Cristandade tem como fonte de doutrina a Bíblia e as palavras que lá se encontram...

Edmundo Pellizari, também deu uma contribuição, técnica, neste mesmo sentido:
Logo, teologicamente falando, o umbandista não é cristão. O umbandista é umbandista. E como umbandista, ele pode ter crenças religiosas cristãs, budistas, hinduistas ou yorubás. Tudo isso sem culpa ! Não existe necessidade de usar o cristianismo por tradição, cultura ou porque é politicamente correto !...

Também achei interessante a resposta do irmão Douglas Sanches:
O Umbandista é Cristão? A princípio não. Mas pode ser.
Você é Cristão? Não.

Sandro Mattos da Apeu tem um texto sobre a questão, lembra as palavras de Zélio e pontos de Umbanda que falam sobre Cristo, também faz uma pergunta, que não quer calar e fecha com o sincretismo:
Se a Umbanda não é uma religião baseada nos ditames cristãos, porque então os umbandistas continuam com a imagem de Cristo no local mais alto do Congá? Afinal de contas não existe mais feitor, sinhozinho ou capitão-do-mato...
Que o Mestre Jesus Cristo, chamado carinhosamente por nós de Pai Oxalá, nos cubra com Vosso Manto Sagrado...

Ciganinha, que segue a linha do Caboclo das Sete Encruzilhadas, fala de dentro desta visão tradicional:
O Umbandista é Cristão? Pelo menos uma das linhas, a do Caboclo das Sete Encruzilhadas, sim. O Caboclo era cristão.
Você é Cristão? Sou. Porquê? Algumas coisas não têm explicação. Sou porque sou...

Pai Solano e Mãe Maria afirmam:
Não devemos confundir o ser cristão com o ser católico, reformador, pentecostal ou qualquer outra confissão de fé.

Gostei muito das palavras de Eduardo Dutra, que considerou o assunto “relevante e oportuno”:
Minha resposta, então, vai no sentido de que a Umbanda é uma religião diferente daquelas que se designam como cristãs, mas que nós umbandistas, sob muitos aspectos vivenciamos princípios morais que nos foram transmitidos pelo cristianismo....

Marcus Vinicius é bem direto em sua opinião e conceito pessoal:
De acordo com as minhas convicções, Cristão não é só quem é católico ou evangélico.
Ser Cristão significa crer em Deus e em Jesus e procurar seguir seus ensinamentos.
Ao que me consta, Deus corresponde ao Orixá Olorum e Jesus, ao Orixá Oxalá. Portanto, nós, Umbandistas somos Critãos, ou seja, Cristãos Umbandistas.

O irmão Edson Balan, fez um pedido e uma proposta, no meu entender:
Peço aos irmãos que organizem convenções onde possam cada um defender sua teses, fortalecendo-as
Buscando inicialmente eco concordatário em todo o nosso meio para depois se expor a mídia um parecer
Que se possa dizer “ Nós Umbandistas pensamos assim “ .

Foram muitos e-mails enviados sobre o assunto, se Umbanda é Cristã e se “você” é cristão.
Eu também tenho uma opinião, quando perguntam minha religião a resposta é sempre a mesma, pronta, “Umbanda”, sou “Umbandista”, sem corruptelas, qualificativos ou distinções. Apenas “Umbanda” e tenho orgulho de ser Umbandista. Ainda assim tenho uma formação Espirita, de berço, na qual aprendi a me sentir cristão, e quando entrei para a Umbanda, este sentimento não mudou, pelo contrário se reforçou e evidenciou. Um dos guias que me assistem costuma dizer que “A imagem de Cristo, de Jesus, não é enfeite”, outra entidade afirma: “Poder é Deus, Força é Perdão e Exemplo é Cristo”. Nossos pretos velhos “usam” nomes de “batismo católico”, João, Antônio, Pedro, Benedito...
Assim sou Umbandista e me sinto “cristão”, mas da mesma forma me sinto “naturista” pela influencia dos caboclos, “panenteista” pela influencia do Culto aos Orixás, me sinto até um pouco “Católico” (mas não católico como denominação) pela presença de santos essencialmente católicos como São Jorge, Nossa Senhora, São Jerônimo... Me sinto tão cristão quanto afro, indígena ou espirita por suas influencias... mas não sou “Cristão”, posso até ser “Umbandista Cristão” ou “Cristão Umbandista” e a Umbanda, na minha opinião, é tão cristã quanto nagô, bantu (afro), tupi, guarani (indígena), mística, esotérica, espirita, ocultista, mágica... etc.

Mas que Cristo está tão presente aqui quanto em qualquer religião é uma verdade, de meu ponto de vista, tanto quanto estão presentes, os Orixás e as Forças da Natureza e os Mestres Ascencionados... O que nos difere é que Umbanda tem uma linguagem própria para apresentar seus fundamentos, pois é uma RELIGIÃO, e como tal existe por si só, embora, como todas as outras bebeu em fundamentos alheios até criar os seus próprios fundamentos.

Um grande abraço á todos...
Alê Cumino

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Divaldo e o “Preto Velho”

Para quem gosta de reflexões...

Divaldo e o “Preto Velho”
Há na internet um áudio com a voz de Divaldo Pereira Franco
Em que o mesmo se pronuncia a cerca de um espírito que venha a
Se identificar como “Preto Velho”.
Este é apenas nosso pretexto para uma reflexão que pretende ir além...

Sabemos que Divaldo é Espirita (“kardecista”) dos mais respeitados e
Também eu o respeito por seu trabalho dentro da Seara Espírita
Em que é um dos maiores divulgadores, escritores e palestrante.

O áudio em questão pode ser ouvido no site abaixo:

Abaixo está uma passagem deste áudio para uma “reflexão umbandista”:

- Um Espirito que se apresenta para o grupo como “Preto Velho”...pode ser levado a sério?
_ Não pode...Este espírito pode ser muito bom, mas é muito ignorante...

[...] _ Não meu irmão vc foi (um preto velho) vc agora não tem cor...

Compreendo que com estas palavras Divaldo fez sua “reflexão espírita-kardecista”
apoiada em opinião pessoal e intransferível.

Muito provavelmente o irmão não de seu conta de que, quando um espírito afirma:
“Fui um negro, fui escravo, sofri...” está falando de sua vida passada.

Mas, quando afirma “Sou um ‘Preto Velho’” este espírito está
Inserido em um contexto determinado dentro da espiritualidade
brasileira no geral e umbandista no especifico.
Em que não importa o que ele foi e sim como quer se apresentar,
Logo está distante do apego por raça ou identidade.
Aquele que o recrimina dizendo você não é mais negro nem velho,
Este sim deve estar apegado, pois a afirmação do outro lhe incomoda
Ao ponto de desacreditá-lo antes mesmo de ouvir o que tem a dizer.

É triste e ao mesmo tempo é exatamente a mesma postura “espirita”, radical, ortodoxa e
Pobre de espírito que tiveram os senhores presentes na sessão do dia 15 de Novembro de 1908
Quando em sua primeira manifestação o Caboclo das Sete Encruzilhadas afirmou:
“- Não basta fazer diferença na carne e querem levar estas diferenças para além tumulo?”
“-Venho para trazer uma religião em que todos serão aceitos, a quem sabe menos
Vamos ensinar e com quem sabe mais vamos aprender...”

A postura preconceituosa diante do “Preto velho” se repete até os dias de hoje,
Com uma linguagem diferente, com argumentos diferentes, com outra roupagem
Que não permita lhe chamar “discriminação”.

É certo que no “Espiritismo” não se adota a idéia de “formas plasmadas”
“falanges” e recursos de linguagem para criar um ambiente determinado.
Mas qual espirita ou espiritualista realmente estudioso que desconhece
“Preto velho” e “Caboclo” como algo especifico do contexto umbandista.
Se é do contexto umbandista como avaliar este valor fora de contexto?

Na década de 1970 Chico Xavier já havia respondido a esta mesma pergunta
No programa “Pinga Fogo”:

“-O Sr. acha que os espíritos que se manifestam em um terreiro de Umbanda, dizendo-se
Guias de cura, pretos velhos, índios, caboclos são espíritos da luz...?”
“- Nós respeitamos a religião de Umbanda como devemos respeitar todas as religiões...”

Creio que nos basta o respeito, pois quem deve explicar o “preto velho”, o “caboclo”,
“exu”, “pomba gira” etc... somos nós umbandistas, nem os espíritas e muito menos os neo-pentecostais de plantão...

Alan Kardec em seu tempo também ouviu as palavras de um negro velho que havia sido escravo:

Em entrevista com “Pai César” que havia sido negro e escravo, Kardec constata  que o mesmo
Guarda sentimentos de tristeza e que não gostaria de reencarnar como negro naquele contexto.

Esta é uma diferença crucial entre a identificação de determinada encarnação
como escravo e suas reminiscências e o “preto velho” que representa aquele
que venceu o sofrimento, não está apegado ao mesmo mas transcendeu
e está acima das relações raciais. “Preto Velho” representa a sabedoria do
velho, do ancião e o ser “negro” num pais historicamente racista denota
que esta sabedoria não é propriedade de grupo algum muito menos de títulos
formações, faculdade e diplomas. Esta sabedoria vem por meio da
“Escola da Vida”
A única escola que realmente ensina, pois as demais orientam, só a vida ensina.
“Preto Velho” é um grau adquirido por espíritos que se tornaram Mestres nesta Escola.

Voltam para nos ensinar, e em sua forma de apresentação, em seu linguajar, já nos dão dicas
Preciosas e silenciosas sobre onde estão os valores desta Escola.

A forma em detrimento da forma, a identidade que revela anonimato,
A velhice como sabedoria e o silencio como humildade...

Preto Velho chega a ser uma figura “mitológica” moderna quando avaliamos o
Valor dos mitos e arquétipos, a influencia dos mitos do herói (caboclo) e do sábio (preto velho)
Assim como do “trikster” (exu). São fundamentais para a compreensão “cognitiva” de nossa realidade,
A linguagem simbólica, metafórica e arquetípica é um dos recursos mais fortes e poderosos para
Ensinar além das palavras e do “nível de conhecimento” de cada um.

A forma de apresentar-se evoca e invoca contextos de valores muito mais profundos
Que nossos discursos vazios sobre quem você foi em outra vida ou qual seja a nossa doutrina...

Forma Plasmada é “Doutrina de Impacto” ou seja um choque para o arrogante, soberbo e petulante,
Ter de pedir benção, ajuda e proteção ao “Preto Velho” ou ao “Caboclo”.
Para além da intelectualidade está o efeito doutrinário do contexto dentro de um universo mágico,
O Universo Umbanda.


Voltando as palavras de Divaldo:


Devemos considerar que estas palavras são pura diversidade de opinião,
erro ou engano doutrinário, de uma interpretação espirita com relação a um
Valor, símbolo, Umbandista?

Divaldo é ignorante (de nossos valores), preconceituoso ou
suas palavras devem ser válidas dentro do contexto espirita (“kardecista”)?


Até quando vamos ouvir pessoas tão respeitáveis, notórias, formadores de opinião,
lideres, mestres, escritores... rotulando e interpretando nossos valores a revelia?

O que podemos fazer?

Para falar sobre os valores de certa religião devo conhecê-la e
ouvir como seus adeptos explicam seus fundamentos.

Devo ler seus livros sagrados, acompanhar sua liturgia e me esforçar
Em ouvir e respeitar como o “outro” explica a sua religião.

Não explico os santos na igreja católica pelo sincretismo de Umbanda.
Não explico a Mitologia Nagô Yorubá por meio do conceito Umbandista.
Não explico o porque do copo de água no espiritismo por meio da Magia dos Elementos.
Não Explico os gênios bons e maus do Islã (sufismo) por meio da direita e esquerda da Umbanda.
Não explico o puja hindu por meio da gira de Umbanda
Não explico a manifestação pentecostal por meio da incorporação de caboclo.
Não explico a magia da cabala hebraica por meio do ponto riscado...

“Eu” não posso explicar o “outro”.
Posso apenas ouvi-lo e procurar entender ou não.

Quem explica a Umbanda?


Não é o não-umbandista que explica a Umbanda,
São os umbandistas que devem explicá-la,
Ao não-umbandista cabe tentar entender,
mas não tentar explicar o que não é seu.


Frente a atual “Diversidade” e liberdade de opiniões dentro o todo a que chamamos Umbanda,
Em minha opinião se faz necessário e urgente abordar Umbanda pela base comum, pela Unidade,
em seus fundamentos universais.
Valores de Base que servem à Unidade Comum da Religião,
Esta que lhe dá identidade.

Qual é a Unidade da Umbanda?
O que é a “Umbanda” para além das “Umbandas”?

Creio que a Unidade é:

“A Manifestação do Espirito para a Prática da Caridade”;
“Aprender com quem sabe mais e ensinar a quem sabe menos”;
“Amor e Caridade”
Caboclo das Sete Encruzilhadas

“A Escola da Vida”;
“Coisa Séria para gente Séria”
Caboclo Mirim

Religião Brasileira do Caboclo e do Preto Velho;
Religião Inclusiva que absorveu valores diversos;
Religião Mediúnica, Sincrética, Mágistica e Caritativa.

Anunciada e Praticada Historicamente
Por um jovem de 17 anos incorporado por Frei Gabriel de Malagrida
Assumindo para si a identidade de Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Assim como tantos outros assumiram as identidades de Caboclo, Preto velho...
Por opção e não por falta de opção, tenha sido ou não sua identidade carnal.

Se temos uma base, uma unidade, “já há muito estabelecida”
Para não dizer “codificada”, pois muitos crêem que esta palavra
Implica estar escrita e engessada.

Então porque tantos insistem em nos interpretar a partir de seus pontos de vista,
Limitados a suas culturas e/ou credos.

Porque simplesmente não nos perguntam e respeitam nossa resposta
a cerca de nossos valores e liturgia?

Assim como respeitamos os valores alheios.

Mas... E sempre tem um “mas”; por outro lado:

Quantos de nós está pronto para responder, argumentar e formar opinião?

O que é preciso para uma mudança de paradigma na sociedade com relação aos nossos valores?
Como fazer a tomada de conhecimento ao senso comum de nossos fundamentos?
O que falta para o “Povo” compreender e respeitar nosso universo religioso?

Talvez a resposta não esteja fora e sim dentro...
Vamos fazer nossa parte... de dentro para fora...
Somos todos formadores de opinião, sem exceção...
Antes de reclamar tanto da ignorância alheia vamos buscar
O conhecimento, fundamento e esclarecimento interno.

O respeito deve começar de dentro para fora,
Quem quer respeito deve se dar ao respeito...

Temos responsabilidade direta no que a sociedade ou parte dela pensa sobre nós e nossos valores...

Só depende de nós, nos prepararmos melhor para preparar... melhor.

“Umbanda Tem Fundamento, É Preciso Conhecer”

Alexandre Cumino

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sabedoria


“Todo homem torna os limites de seu próprio campo
de visão como os limites do mundo".
Arthur Schopenhauer