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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Eu e a Umbanda em 2007

Eu e a Umbanda em 2007
Uma Reflexão...
Por Alexandre Cumino
Escrevi o texto abaixo em 2007,
Num período de recesso dos atendimentos,
Agora, 4 anos depois, me parece um bom texto para re-compartilhar, boa leitura...
Esta carta destina-se às pessoas que vêm acompanhando meu trabalho junto à Umbanda nestes últimos
12 anos de dedicação (2007) à esta que é minha religião.

Gostaria de fazer algumas considerações a cerca do que entendo por religião e espiritualidade, já que nem sempre caminham juntas.

Nem todo religioso é espiritualista e nem todo espiritualista é religioso, mais ainda podemos dizer que nem todo religioso ou espiritualista está comprometido com a causa de crescimento.

Venho de uma família espírita e espiritualista, na infância entendi que esta era uma via natural, com o tempo entendi que estávamos à frente de nosso tempo (no meu entender claro) por ter esta visão a cerca do mundo, compreendia que éramos pessoas libertas de religião (Católica) e de tudo que ela impunha de peso como pecado e inferno.
Enquanto Kardecista jamais aceitaria dogmas e tabus, assim como não me dobraria a meias verdades, tudo teria que ser explicado.
Então conheci a Umbanda, como religião nova e inovadora, com uma proposta diferente de tudo que já havia visto em religião.
A Umbanda se mostrou a mim muito próxima do Espiritismo (Kardecismo) com o detalhe que traz elementos a mais como a Magia, culto a Divindades e muita manifestação em detrimento da informação, na Umbanda o costume de estudar nem sempre é exigido.
Assim fui e estou caminhando na Umbanda, ser umbandista é um ato de coragem ou não, pois muitos por covardia negam que praticam ou freqüentam a Umbanda.
Assumir-se Umbandista com Orgulho é um ato de rebeldia.
Então quando estudamos a história das religiões descobrimos que os maiores avatares e iluminados foram rebeldes e corajosos como Jesus Cristo, Muhamed, Moisés, Abraão, Buda Sidharta Gautama, Shankara, Ramakhisna e outros lideres espirituais.

Ter uma proposta real de crescimento espiritual implica em comprometimento e quantos estão realmente comprometidos com o crescimento espiritual de si mesmo.

O Caboclo das Sete Encruzilhadas criou a religião com estas palavras:
“Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade”

Fazer a caridade pura e simplesmente não implica em ser uma pessoa melhor, pois para se tornar melhor é preciso o autoconhecimento.
Podemos até dizer que muitos fazem a caridade por desencargo de consciência e outros ainda a fazem por vaidade.
A partir do momento que se diz que a melhor pessoa é a que faz mais caridade, muitos passam a fazer mais caridade para ser melhor que os outros, ela passa a ser objeto do Ego e da Vaidade.
Qualquer movimento no sentido de ser melhor do que os outros é um movimento do ego, o único crescimento está em ser melhor do que eu mesmo. Isto implica numa análise profunda de auto conhecimento.

Bem ainda sobre o Caboclo das Sete Encruzilhadas ele também disse que:

“Aprenderemos com quem sabe mais e ensinaremos a quem souber menos, a ninguém voltaremos as costas”

Aqui o caboclo coloca uma direção importante para a religião de umbanda, ele mostra que é fundamental o crescimento e aprendizado.
Agora digo eu:
Se, podemos aprender com todos, também podemos aprender de todas as doutrinas, filosofias e religiões.
Só não podemos perder o propósito de aprender, de sermos melhores.

Tudo isso para dizer que venho questionando demais a maneira como procedemos nossos trabalhos de umbanda, nossos trabalhos de atendimento a quem nos procura.

O questionamento não é a cerca de qual é minha religião e sim sobre o que estamos fazendo nesta religião, mesmo porque temos a liberdade de trabalhar como acreditarmos que for melhor.
O motivo real deste questionamento é o quanto, consulentes e médiuns, se tornam dependentes do trabalho espiritual.

Entendo que devemos reformular algumas coisas na umbanda, nos trabalhos espirituais, quando dirijo uma “Gira de Umbanda”, tomo a liberdade de me dirigir aos consulentes e fazer algumas perguntas como:

Quem está vindo aqui pela primeira vez?
Quem está vindo na Umbanda pela primeira vez?

E assim explico a eles em poucas palavras que Umbanda é uma religião brasileira espiritualista,
que cultua os Orixás e faz atendimento mediúnico, com incorporação de espíritos à frente de um altar católico.

Após isso passo a explicar que Umbanda é uma religião e como tal não aceita nenhum pedido negativo ou que possa prejudicar a alguém, pois, isto não pode ser aceito em religião nenhuma e umbanda é uma religião.

Digo então que nascemos para fazer escolhas nesta vida e que não devemos passar a responsabilidade destas escolhas na mão de ninguém nem dos espíritos.

Os guias podem e devem nos ajudar, mas as escolhas de nossas vidas devem ser feitas por nós, assim a pessoa não deve perguntar a um espírito se ela deve ou não se casar, por exemplo, muito menos perguntar se está sendo traída ou se deve trocar de emprego, perguntas estas muito freqüentes nos terreiros de Umbanda.

Então o que falar ou perguntar para um guia espiritual?

Creio que não estamos ali para perguntar e nem falar, estamos ali para ouvir o que ele tem a nos dizer se é que tem algo a dizer.
Devemos ir aos centros, tendas e terreiros de Umbanda para nos limparmos, nos equilibrarmos, alcançarmos uma conexão maior com o plano astral e buscarmos axé (poder de realização) para nossas vidas e que Deus e os Orixás nos iluminem para tomarmos as decisões corretas em nossas vidas.

Fazer o Bem e não fazer o mal é algo muito simples,
devemos sim aproveitar a religião para algo maior,
para nos auto-conhecer.

Talvez seja uma utopia de minha parte,
talvez seja difícil o que gostaria de praticar dentro da Umbanda.

Tenho acompanhado nestes anos a luta de meu Irmão e Mestre Rubens Saraceni que nos trouxe a “Teologia de Umbanda Sagrada” um curso esclarecedor e fundamentado para quem quer conhecer mais a cerca da religião, eu mesmo ministro este curso desde 1999.

O que venho questionando não é a cerca da informação, pois, hoje temos a obra do Rubens (e muitas outras vem se somando), para recorrer ao estudo e conhecimento. O que me ocupo é sobre a relação humana e seu comprometimento com o auto-conhecimento e proposta de crescer.

No nosso modelo de trabalho espiritual (Umbanda) é possível ser um bom médium,
que tem um dom de incorporação bem apurado, dar boas comunicações e no entanto ser um ser humano desequilibrado.

Me parece que temos super valorizado o don em detrimento do ser humano que somos,
não nos interessa se tal pessoa é boa ou não, para trabalhar na umbanda só interessa se é bom médium.

Assim nós os umbandistas nos acomodamos na posição de ir ao terreiro incorporar os guias para trabalhar e voltar para casa,
não precisamos ter nenhum comprometimento com nosso crescimento interior.

A maioria das pessoas acredita que ter crescimento interior consiste em ler alguns livros e fazer alguns cursos.

O crescimento começa com o identificar dos nossos defeitos e procurar caminhos para corrigi-los,
quanto mais comprometidos, quanto mais sinceros, mais vamos identificá-los e lutar por uma transformação interior.

Geralmente quando não somos comprometidos, identificamos nossos defeitos apenas para escondê-los, porque acreditamos que se mostrarmos a sociedade, amigos e conhecidos, que não temos defeitos seremos aceitos no céu.

Esquecemos ou ninguém nos ensinou que Céu não existe fora de nós, não adianta fazer toneladas de caridade, se estivermos desequilibrados internamente não alcançaremos um lugar bom.

Tempo e Espaço são ilusões comprovadas pela física,
o único lugar que podemos ir é para dentro de nós mesmos e o único tempo real é agora,
logo caridade não te leva a lugar nenhum se antes você não for a este lugar internamente.

A caridade também deve ser uma conseqüência e não o objeto ou a senha para entrar no céu.

Sempre que questiono a tudo, questiono a mim mesmo, aliás o meu maior questionamento é a mim mesmo, podemos entender isto como um ato de rebeldia, que significa não me conformar comigo mesmo, não ser medíocre.

Tenho Orgulho de Ser Umbandista ! ! !

Além das praticas de terreiro tenho minhas práticas diárias de umbanda,
por isso, também, sou umbandista, não dependo de um terreiro para ser ou praticar.

Ensino a todos que primeiro temos que ajudar a nós mesmos e depois os outros,
pois se não estiver bem comigo mesmo como vou ajudar aos outros.

Acredito inclusive que meus guias ajudam primeiro a mim e depois aos que os procuram por meu intermédio.

Ajudar a mim mesmo neste momento diz respeito a me conhecer melhor,
ajudar aos outros significa ajudá-los a se conhecerem melhor.

O propósito maior da religião deve ser de criar condições para a pessoa ter uma experiência com Deus,
não apenas estudar regras e doutrinas.

Pois bem assim entendi que neste momento estou de recesso de meus trabalhos espirituais (Em 2007),
afinal primeiro ajudo a mim mesmo, não posso ajudar aos outros se creio que algo tem que mudar.

A dependência que se cria com os guias espirituais tem sido muito grande e vejo uma necessidade de esclarecer melhor isso.
Talvez a solução esteja, em parte, nos Cultos Coletivos, Cultos estes que aprendi com Rubens Saraceni (mais uma vez inovador), precisamos de mais modelos diferentes para nosso trabalho, que valorizem o ser humano e o direcione para um crescimento.

Entendo que precisamos aprender com todos os mestres da humanidade e ir além do don mediúnico, devemos ir além de ser apenas um instrumento, devemos ir além da passividade, devemos ir além da “caridade”, devemos nos tornar nós mesmos pessoas melhores e não apenas o nosso don ser melhor.

Devemos exigir de nós mesmos comprometimento com práticas particulares e análises profundas que avaliem nosso grau de maturidade e nossa capacidade para ir em busca desta maturidade.

Na Umbanda só tenho a agradecer a todos que passaram por mim e aos que estão comigo.

Me lembro de uma historinha de um Mestre Hindu que afirmava que graças a religião tinha perdido tudo:
Perdido seu Ego, sua vaidade, seus apegos, sua ira, sua inveja e outros...

Pois bem ainda não perdi tudo isso, tenho ainda muita coisa a perder, mas é fato que a Umbanda me ajudou e muito a ser mais humilde, mesmo porque se não sou mais humilde estou fingindo para mim mesmo. Truque do ego ou não, me sinto uma pessoa melhor, embora fique claro que meus valores fundamentais vieram da família (Mãe, Pai, Irmãs, Avós, Tios...),
mais do que religião precisamos dar valores a nossos filhos,
tenho que agradecer a Deus pelos valores recebidos de Pai e Mãe.

Na Umbanda apreendi a dar menos valor ao Ego, pois na Umbanda tive a oportunidade de extravasar meu ego, afinal o que mais tem é “Pai de Santo” vaidoso, afinal se assim fosse ninguém me conheceria por “Alê”, como todos me chamam, talvez eu fosse conhecido como “Pai Alexandre Cumino de Xangô” ou de “Oxalá”, Professor Alexandre ou Mestre Alexandre?

Isto não quer dizer que em momento algum me senti vaidoso,
já me senti sim e até já tive atitudes das quais não me orgulho,
pois quem está livre da vaidade, no entanto estou comprometido em queimá-la.

Na Umbanda podemos cair ou subir facilmente pois ela não nos poda,
temos um livre arbítrio muito forte.

O fato é que é momento de reflexão, de desconstrução e construção ou re-construção.

Precisamos de idéias novas, de novas soluções, nada cresce sem crise, sem questionamento, sem mudanças e transformação.
Não é à toa que o fator da Evolução é Transformação.

Sou uma pessoa em constante transformação, para isso há momentos em minha vida que preciso me recolher,
foi assim quando entrei para a Umbanda (participando da fundação e criação do grupo, terreiro, Eternos Aprendizes do Amor e da Fé),
também quando dei inicio a um novo trabalho que é o Colégio de Umbanda Sagrada Pena Branca
no qual criamos um grupo assistencial Eternos Aprendizes da Umbanda
(extinto na data deste texto e substituído pelas atividades naturais do Colégio Pena Branca).

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