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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Divaldo e o “Preto Velho”

Para quem gosta de reflexões...

Divaldo e o “Preto Velho”
Há na internet um áudio com a voz de Divaldo Pereira Franco
Em que o mesmo se pronuncia a cerca de um espírito que venha a
Se identificar como “Preto Velho”.
Este é apenas nosso pretexto para uma reflexão que pretende ir além...

Sabemos que Divaldo é Espirita (“kardecista”) dos mais respeitados e
Também eu o respeito por seu trabalho dentro da Seara Espírita
Em que é um dos maiores divulgadores, escritores e palestrante.

O áudio em questão pode ser ouvido no site abaixo:

Abaixo está uma passagem deste áudio para uma “reflexão umbandista”:

- Um Espirito que se apresenta para o grupo como “Preto Velho”...pode ser levado a sério?
_ Não pode...Este espírito pode ser muito bom, mas é muito ignorante...

[...] _ Não meu irmão vc foi (um preto velho) vc agora não tem cor...

Compreendo que com estas palavras Divaldo fez sua “reflexão espírita-kardecista”
apoiada em opinião pessoal e intransferível.

Muito provavelmente o irmão não de seu conta de que, quando um espírito afirma:
“Fui um negro, fui escravo, sofri...” está falando de sua vida passada.

Mas, quando afirma “Sou um ‘Preto Velho’” este espírito está
Inserido em um contexto determinado dentro da espiritualidade
brasileira no geral e umbandista no especifico.
Em que não importa o que ele foi e sim como quer se apresentar,
Logo está distante do apego por raça ou identidade.
Aquele que o recrimina dizendo você não é mais negro nem velho,
Este sim deve estar apegado, pois a afirmação do outro lhe incomoda
Ao ponto de desacreditá-lo antes mesmo de ouvir o que tem a dizer.

É triste e ao mesmo tempo é exatamente a mesma postura “espirita”, radical, ortodoxa e
Pobre de espírito que tiveram os senhores presentes na sessão do dia 15 de Novembro de 1908
Quando em sua primeira manifestação o Caboclo das Sete Encruzilhadas afirmou:
“- Não basta fazer diferença na carne e querem levar estas diferenças para além tumulo?”
“-Venho para trazer uma religião em que todos serão aceitos, a quem sabe menos
Vamos ensinar e com quem sabe mais vamos aprender...”

A postura preconceituosa diante do “Preto velho” se repete até os dias de hoje,
Com uma linguagem diferente, com argumentos diferentes, com outra roupagem
Que não permita lhe chamar “discriminação”.

É certo que no “Espiritismo” não se adota a idéia de “formas plasmadas”
“falanges” e recursos de linguagem para criar um ambiente determinado.
Mas qual espirita ou espiritualista realmente estudioso que desconhece
“Preto velho” e “Caboclo” como algo especifico do contexto umbandista.
Se é do contexto umbandista como avaliar este valor fora de contexto?

Na década de 1970 Chico Xavier já havia respondido a esta mesma pergunta
No programa “Pinga Fogo”:

“-O Sr. acha que os espíritos que se manifestam em um terreiro de Umbanda, dizendo-se
Guias de cura, pretos velhos, índios, caboclos são espíritos da luz...?”
“- Nós respeitamos a religião de Umbanda como devemos respeitar todas as religiões...”

Creio que nos basta o respeito, pois quem deve explicar o “preto velho”, o “caboclo”,
“exu”, “pomba gira” etc... somos nós umbandistas, nem os espíritas e muito menos os neo-pentecostais de plantão...

Alan Kardec em seu tempo também ouviu as palavras de um negro velho que havia sido escravo:

Em entrevista com “Pai César” que havia sido negro e escravo, Kardec constata  que o mesmo
Guarda sentimentos de tristeza e que não gostaria de reencarnar como negro naquele contexto.

Esta é uma diferença crucial entre a identificação de determinada encarnação
como escravo e suas reminiscências e o “preto velho” que representa aquele
que venceu o sofrimento, não está apegado ao mesmo mas transcendeu
e está acima das relações raciais. “Preto Velho” representa a sabedoria do
velho, do ancião e o ser “negro” num pais historicamente racista denota
que esta sabedoria não é propriedade de grupo algum muito menos de títulos
formações, faculdade e diplomas. Esta sabedoria vem por meio da
“Escola da Vida”
A única escola que realmente ensina, pois as demais orientam, só a vida ensina.
“Preto Velho” é um grau adquirido por espíritos que se tornaram Mestres nesta Escola.

Voltam para nos ensinar, e em sua forma de apresentação, em seu linguajar, já nos dão dicas
Preciosas e silenciosas sobre onde estão os valores desta Escola.

A forma em detrimento da forma, a identidade que revela anonimato,
A velhice como sabedoria e o silencio como humildade...

Preto Velho chega a ser uma figura “mitológica” moderna quando avaliamos o
Valor dos mitos e arquétipos, a influencia dos mitos do herói (caboclo) e do sábio (preto velho)
Assim como do “trikster” (exu). São fundamentais para a compreensão “cognitiva” de nossa realidade,
A linguagem simbólica, metafórica e arquetípica é um dos recursos mais fortes e poderosos para
Ensinar além das palavras e do “nível de conhecimento” de cada um.

A forma de apresentar-se evoca e invoca contextos de valores muito mais profundos
Que nossos discursos vazios sobre quem você foi em outra vida ou qual seja a nossa doutrina...

Forma Plasmada é “Doutrina de Impacto” ou seja um choque para o arrogante, soberbo e petulante,
Ter de pedir benção, ajuda e proteção ao “Preto Velho” ou ao “Caboclo”.
Para além da intelectualidade está o efeito doutrinário do contexto dentro de um universo mágico,
O Universo Umbanda.


Voltando as palavras de Divaldo:


Devemos considerar que estas palavras são pura diversidade de opinião,
erro ou engano doutrinário, de uma interpretação espirita com relação a um
Valor, símbolo, Umbandista?

Divaldo é ignorante (de nossos valores), preconceituoso ou
suas palavras devem ser válidas dentro do contexto espirita (“kardecista”)?


Até quando vamos ouvir pessoas tão respeitáveis, notórias, formadores de opinião,
lideres, mestres, escritores... rotulando e interpretando nossos valores a revelia?

O que podemos fazer?

Para falar sobre os valores de certa religião devo conhecê-la e
ouvir como seus adeptos explicam seus fundamentos.

Devo ler seus livros sagrados, acompanhar sua liturgia e me esforçar
Em ouvir e respeitar como o “outro” explica a sua religião.

Não explico os santos na igreja católica pelo sincretismo de Umbanda.
Não explico a Mitologia Nagô Yorubá por meio do conceito Umbandista.
Não explico o porque do copo de água no espiritismo por meio da Magia dos Elementos.
Não Explico os gênios bons e maus do Islã (sufismo) por meio da direita e esquerda da Umbanda.
Não explico o puja hindu por meio da gira de Umbanda
Não explico a manifestação pentecostal por meio da incorporação de caboclo.
Não explico a magia da cabala hebraica por meio do ponto riscado...

“Eu” não posso explicar o “outro”.
Posso apenas ouvi-lo e procurar entender ou não.

Quem explica a Umbanda?


Não é o não-umbandista que explica a Umbanda,
São os umbandistas que devem explicá-la,
Ao não-umbandista cabe tentar entender,
mas não tentar explicar o que não é seu.


Frente a atual “Diversidade” e liberdade de opiniões dentro o todo a que chamamos Umbanda,
Em minha opinião se faz necessário e urgente abordar Umbanda pela base comum, pela Unidade,
em seus fundamentos universais.
Valores de Base que servem à Unidade Comum da Religião,
Esta que lhe dá identidade.

Qual é a Unidade da Umbanda?
O que é a “Umbanda” para além das “Umbandas”?

Creio que a Unidade é:

“A Manifestação do Espirito para a Prática da Caridade”;
“Aprender com quem sabe mais e ensinar a quem sabe menos”;
“Amor e Caridade”
Caboclo das Sete Encruzilhadas

“A Escola da Vida”;
“Coisa Séria para gente Séria”
Caboclo Mirim

Religião Brasileira do Caboclo e do Preto Velho;
Religião Inclusiva que absorveu valores diversos;
Religião Mediúnica, Sincrética, Mágistica e Caritativa.

Anunciada e Praticada Historicamente
Por um jovem de 17 anos incorporado por Frei Gabriel de Malagrida
Assumindo para si a identidade de Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Assim como tantos outros assumiram as identidades de Caboclo, Preto velho...
Por opção e não por falta de opção, tenha sido ou não sua identidade carnal.

Se temos uma base, uma unidade, “já há muito estabelecida”
Para não dizer “codificada”, pois muitos crêem que esta palavra
Implica estar escrita e engessada.

Então porque tantos insistem em nos interpretar a partir de seus pontos de vista,
Limitados a suas culturas e/ou credos.

Porque simplesmente não nos perguntam e respeitam nossa resposta
a cerca de nossos valores e liturgia?

Assim como respeitamos os valores alheios.

Mas... E sempre tem um “mas”; por outro lado:

Quantos de nós está pronto para responder, argumentar e formar opinião?

O que é preciso para uma mudança de paradigma na sociedade com relação aos nossos valores?
Como fazer a tomada de conhecimento ao senso comum de nossos fundamentos?
O que falta para o “Povo” compreender e respeitar nosso universo religioso?

Talvez a resposta não esteja fora e sim dentro...
Vamos fazer nossa parte... de dentro para fora...
Somos todos formadores de opinião, sem exceção...
Antes de reclamar tanto da ignorância alheia vamos buscar
O conhecimento, fundamento e esclarecimento interno.

O respeito deve começar de dentro para fora,
Quem quer respeito deve se dar ao respeito...

Temos responsabilidade direta no que a sociedade ou parte dela pensa sobre nós e nossos valores...

Só depende de nós, nos prepararmos melhor para preparar... melhor.

“Umbanda Tem Fundamento, É Preciso Conhecer”

Alexandre Cumino

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