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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Gênese das Religiões


Admitimos por um momento que o nosso benévolo leitor, seja ele de que culto ou crença for, tivesse de fazer, como missionário, uma grande excursão pelos sertões de Mato Grosso.
       Chegado a um ponto das ínvias selvas, depara-se com uma tribo de selvagens ocupada em render preito e homenagem a uma entidade abstrata, que ela reconhece como Superior e como Criadora de tudo quanto a cerca.
        Essa entidade, ou anteriormente esse Deus, é representada por um boneco de barro exoticamente fabricado ou por um tronco de árvore cercado por enormes fogueiras, como as piras dos antigos templos, em volta das quais os silvícolas executam uma frenética dança ao som de flautas de bambu, acompanhada de estridentes berros à guisa de hinos maviosos.
       Que fará nosso missionário?
       Certamente procurará, com tempo e jeito, convencê-los de que laboram em erro e de que o verdadeiro Deus é aquele que ele mesmo adora, seja Jeová, Alá, Buda ou o Cristo do Calvário.
        É possível que, convencidos de que o estúpido boneco nada represente, eles passem a adotar o símbolo do nosso incansável missionário.
        Admitamos, porém, que outros missionários, de credos diferentes, venham também a passar por ali, sucessivamente, com intervalos assaz suficientes para dar tempo a que a nova crença se enraíze em seus pobres cérebros.
        Que sucederá?
         Sucederá que, ao cabo de alguns anos, digamos mesmo, de alguns séculos, essa tribo terá mudado várias vezes o modo de compreender esse Deus.
         Mas não se segue daí que toda a tribo, sem exceção de uma só alma, tenha permanecido fiel a cada crença que foi sucedida, e isso com unânime aprovação.
         É indubitável, dada a diversidade de mentalidades, que tenham surgido certas divergências no modo de encarar esse Deus e seus atributos, ou mesmo na maneira de cultuá-lo nas sucessivas crenças, resultando dali, então, as exegeses e os cismas que acabaram por dividir esses cultos em outros tantos cultos ou seitas contrários e inimigos, a ponto de se odiarem de morte.
         É exatamente o resultado verificado hoje na face desse pobre giroscópio.
         Os primitivos povoadores da Terra sentiram que tudo quanto viam devia ser o produto de uma força superior e inteligente e começaram, então, na opinião de alguns historiadores, a simbolizar essa força, já com um disco representando o Sol, como fonte de vida material, já com um tronco de árvore, de onde foram surgindo os esteios da cabana que se transformaram em coluna do Templo, etc.
         Pela observação e pelo estudo da natureza, movidos pelas necessidades vitais, as indústrias foram sendo criadas, as artes nasceram, a ciência se manifestou, até se condensar em Academia.

Revelação
         Foi então que a Religião fora revelada aos mais puros, nascendo dali o Templo, pois a Religião é o suspiro do homem, cuja resposta vem do céu e não da Terra.

        Que tivesse havido esta Revelação, está isso sobejamente confirmado por todas as religiões do mundo.

         Dupuis não crê na revelação, pois, segundo ele, só a razão humana é que tudo definiu; mas ele não reflete que essa Razão, que não é criação do homem, mas sim da Razão Suprema, que lhe deu em igualdade de grau para raciocinar e tirar conclusões justas e força de comparações, estudos e experiências, é que constitui, de fato, a Revelação Divina, seja por inspiração ou suposto acaso.

         No Manavadarma foi a Krishna; nos Vedas, a Buda; no Zenda-Avesta, a Zoroastro; nos livros Herméticos, a Hermes; nos Kings, da China, a Fo-Hi, a Lao-Tsé, a Confúcio; no Pentateuco, a Moisés; no Alcorão, a Maomé; no Livro de Jó , ao Pontífice ; nos Evangelhos, a Jesus.
Todos eles afirmam terem recebido a verdade, de Deus mesmo, como a expressão dos seus divinos decretos.
      
Confúcio, príncipe regente, repudiou tudo para dedicar-se ao sacerdócio, quando, aos 50 anos, recebia essa revelação.
         Daí a razão de ser Religião a Síntese da Ciência e não o contrário, o que seria absurdo.
         Charles Norman, sábio astrônomo do Observatório de Paris, sintetiza admiravelmente essa Revelação em poucas palavras:
“Na verdade, parece que nada manifesta a presença mística do divino, tanto quanto esta eterna e inflexível harmonia que liga aos fenômenos expressos por leis científicas.
A ciência que nos mostra o vasto Universo, concreto, coerente, harmônico, misteriosamente unido, organizado como uma vasta e muda sinfonia, dominada pela lei e não por vontades particulares, a ciência, em suma, não será uma revelação?”

É certo, e isso não pode sofrer a mais leve refutação, que a crença monoteísta, isto é, a de um só Deus Criador e Todo Poderoso, existiu desde uma antiguidade pré-histórica e descrita nos livros anteriormente citados, sendo de notar que os Sastras (Livros Sagrados da Índia) são anteriores de 1.500 anos aos Vedas que, por sua vez, têm mais de 6.000 anos .

Nos Vedas Lê-se o seguinte:
“Deus é aquele que sempre foi; Ele criou tudo quanto existe; uma esfera perfeita, sem começo nem fim é sua fraca imagem. Deus anima e governa toda a criação pela providência geral dos seus Princípios invariáveis e eternos. Não sonde a natureza da existência daquele que sempre foi; esta pesquisa é vã e criminosa. Basta que, dia a dia, noite a noite, suas obras manifestem sua sabedoria, seu poder e sua misericórdia. Trata de tirar proveito disso”.

O Rei da Babilônia, Nabucodonosor, orava do seguinte modo:

“Criador por ti, Senhor, eu te abençôo, tu me deste o poder de reinar sobre os povos segundo tua bondade. Constitui, pois, teu Reinado; impõe a todos os homens a adoração do teu nome. Senhor dos povos, ouve minhas preces. Que todas as raças terrestres venham às Portas de Deus” (Babilu =Babilônia).
      
Nos antigos livros da China (nos Kings) encontra-se o seguinte, transcrito pelo imperador Kang-ki e compilado por du Halde, p.41, da edição de Amsterdã:
“Ele não teve começo nem terá fim. Ele produziu todas as coisas desde o começo; Ele é quem governa como verdadeiro Senhor; Ele é infinitamente bom e infinitamente justo; Ele ilumina, sustenta e regula tudo com suprema autoridade e soberana justiça”.
“Se olharmos os olhos negros dos chineses, diz Max Muller, acharemos que ali também há uma alma que corresponde a de outras almas, e que o Deus que ele tem em mente é o mesmo que nos empolga o espírito, apesar do embaraço da sua linguagem religiosa”.
        
         Os druidas (Sacerdotes Celtas) diziam que Deus é por demais incomensurável para ser representado por imagens fabricadas por mãos de homens, e que seu culto não pode ser prestado entre muralhas de um templo; mas, sim, no santuário da natureza sob a ramagem das árvores ou nas margens do vasto oceano.
       Para os druidas, o símbolo da Vida e da Luz era representado pelo termo ESUS (Definição de Leon Denis – Le Génie Celtique et le Monde Invisible).
       Há neste termo uma curiosa aparência de analogia com o nome que pretendemos estudar neste ensaio.

       O Deus dos druidas era Be-il, de onde o Ba- al da Caldéia, ao qual juntaram Teutalés, similar de Thot-Hermes do Egito.
    
Foi São Judicael quem no século VII aboliu o Druidismo que ainda existia confinado nas florestas da Brocelianda.

       No Tibet, segundo o padre Huc, os Lamas dizem que:
“Buda é o ser necessário, independente, princípio e fim de tudo. É o Verbo, a Palavra. A Terra, os astros, os homens e tudo quanto existe são uma manifestação parcial e temporária de Buda. Tudo foi criado por Buda, no sentido de tudo dele como a luz vem do Sol. Todos os seres emanados de Buda tiveram um começo e terão um fim; mas, assim como eles saíram necessariamente da Essência Universal, eles terão de ser reintegrados. É como os rios e as cachoeiras produzidos pelas águas do mar que, após um percurso mais ou menos longo, vão novamente perder-se na sua imensidade. Assim, Buda é eterno; suas manifestações também são eternas”.

Lê-se no Livro dos Mortos do Antigo Egito:
“Eu sou aquele que existia no Nada; eu sou o que cria; eu sou aquele que se criara por si próprio. Eu sou ontem e conheço amanhã, sempre e nunca”.

         O Templo de Sais, antiga cidade do baixo Egito, trazia gravado em seu frontispício:
“Eu sou tudo que foi, que é e que será, e nenhum mortal jamais levantou o véu que me encobre”. Era o “Deus Desconhecido”.
         No México, em 1431, o rei Netzahualcóyotl  que, quando criança, havia escapado milagrosamente da degolação dos filhos machos, como sucedeu a Moisés, a Jesus e a outros reformadores, conforme veremos mais adiante, mandou construir templos, sendo o mais belo dedicado ao “Deus Desconhecido”. Dizia ele que os ídolos de pedra e de madeira, se não podem ouvir nem sentir, ainda menos poderiam criar o céu, a Terra e os homens, os quais devem ser obra de um Deus Desconhecido, todo-poderoso, em quem confiava para sua salvação e seu auxílio.
          Esse Deus Desconhecido do México deve ser o mesmo Deus Desconhecido que Paulo encontrou em Atenas, conforme se vê em Atos XVI, 23.
          O Ser Supremo dos Astecas era denominado Teotl; era impessoal e impersonificável; dele dependia a existência humana. Era a divindade de absoluta perfeição e pureza em quem se encontra defesa segura.
       
 Nos Livros de Hermes, escritos há mais de 6 mil anos, encontra-se o seguinte diálogo tido com Thoth, que bem define o espírito moral e intelectual daquelas eras:
      “É difícil ao pensamento conceber Deus e à língua de exprimi-lo. Não se pode descrever uma coisa imaterial por meios materiais; o que é eterno não se alia, senão dificilmente, ao que está sujeito ao tempo. Um passa, outro existe sempre. Um é uma percepção do espírito, e outro uma realidade. O que pode ser concebido pelos olhos e pelos sentidos como os corpos visíveis pode ser traduzido pela linguagem; o que é incorpóreo, invisível, imaterial, sem forma, não pode ser conhecido pelos nossos sentidos. Compreendo, pois, Thoth, que Deus é inefável”.

       Nos mesmos Livros lê-se também o seguinte:
      “Desconhecendo nossas ciências e nossa civilização, as gerações futuras dirão que adoramos astros, planetas e animais, quando, de fato, adoramos um só Deus Criador e  Onipotente”.

        Na antiga Pérsia, Zoroastro chamava-o de Mitra, o Deus Criador, sendo Orzmud, o Pai.
       No Egito era Osíris.
       Na Fenícia era Adonis.
       Na Arábia era Baco.
       Na Frigia era Athis.
       Moisés denominou-o de Jeová, por assim lhe ter declarado o próprio Deus.
       Maomé adora-o sob o nome de Alá.
     
 Orfeu, o criador da Mitologia grega, considerado por isso, pelos católicos, como o chefe do paganismo, assim se exprime, segundo Justino, o Mártir em sua obra órfica:
“Tendo olhado o logos divino, assenta-te perto dele, dirigindo o esquife inteligente do teu coração e galga bem o caminho e considera somente o Rei do Mundo. Ele é único, nascido de si mesmo, e tudo vem de um só Ser”. E, como veremos mais adiante, Orfeu conhecia a trindade divina.

      Na obra de Apuleio, Metamorfoses, XI, 4, escrita no século II da nossa era, Ísis, a deusa egípcia, declara que ela é a própria divinizada.
      Diz ela:
       “Eu sou a Natureza, mãe das coisas, senhora de todos os elementos, origem e princípio dos séculos, suprema divindade, rainha das Manes, primeira entre os habitantes do céu, tipo uniforme dos deuses e das deusas. Sou eu cuja vontade governa os cimos luminosos do céu, as brisas salubres do oceano, o silêncio lúgubre dos infernos, potência única, sou pelo Universo inteiro adorada sob várias formas, em diversas cerimônias, com 1.000 nomes diferentes.
        Os Frígios, primeiros habitantes da Terra, me chamam de Deusa -  mãe de Pessinonte; os Atenienses autóctones me nomeiam Minerva, a Cecropana; entre os habitantes da ilha de Chipre, sou Vênus de Pafos; entre os Cretenses,  armador de arco, sou Diana Dichina; entre os Sicilianos que falam três línguas, sou Prosérpina, a utigiana; entro os habitantes de Elêusis, a antiga Ceres, uns me chamam Juno, outros Belone, aqui Hécate, acolá a deusa de Ramonte. Mas, aqueles, que foram os primeiros iluminados pelos raios do Sol nascente, os povos Etiópicos, Arianos, e Egípcios, poderosos pelo antigo saber, estes, sós, me rendem um verdadeiro culto e me chamam, pelo meu verdadeiro nome: a rainha Ísis”.
     
 Todos os milhares de tribos da África, tanto as do litoral como as das regiões centrais, algumas de difícil contato entre si e ainda menos com o europeu, adoram um Deus Supremo Criador, Onisciente, Misericordioso e sumamente bom, por isso nunca faz mal à sua criatura, razão pela qual não lhe prestam nenhum culto, nem lhe dirigem preces, nem procedem a sacrifícios de animais em holocausto.

        “Para definir Deus seria preciso empregar uma língua cujas palavras não pudessem ser aplicáveis às criaturas terrenas”.

       Os povos da Antiguidade, como ainda hoje os da Índia, do Egito, da China, eram e são profundamente religiosos, e seus atos foram e são pautados por uma incomparável moral.
     
 Não é, pois, possível, tachar-se esses homens ou esses povos de bárbaros, pagãos, ateus ou idólatras sem confessar má –fé ou falta de erudição e, portanto, incompetência para a crítica científica e histórica; e, se fanático possa haver, é decerto aquele que o fizer.

      Diz Max Muller:
      “Há pessoas que, por pura ignorância das antigas religiões da humanidade, adotaram uma doutrina, menos Cristã, certamente, que todas as que se encontram nas religiões antigas. Essa doutrina consiste em considerar todos os povos da Terra, antes do advento do Cristianismo, como ateus e condenados pelo Pai Celeste, que eles não conheceram, e, portanto, sem esperança de Salvação!”

        A única base teológica propriamente dita da Teologia Cristã reside nos primeiros versículos de João que são copiados da Teologia pagã.
       As idéias dos cristãos são as de Platão, o qual, por seu turno, as bebeu nas filosofias antigas do Egito, de Orfeu, Pitágoras, etc.
       Santo Agostinho, doutor da Igreja Católica, reconhece que se encontram em todos os povos do mundo as mesmas idéias que tinham os cristãos sobre Deus, sejam eles platônicos, pitagóricos, atlantas, líbios, egípcios, indianos, persas, caldaicos, scytas, gauleses, espanhóis, etc.; todos possuíam os mesmos princípios teológicos e dividiam igualmente a divindade em três partes. Ele reconhecia que os princípios de Platão e Moisés são idênticos, por terem ambos estudado no Egito, nas obras de Hermes Trismegisto.


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